Avaliação de especialistas do Greenpeace é de que conteúdo da fala do presidente deu pouca ênfase à pauta ambiental

Foto: Ricardo Stuckert

São Paulo, 19 de setembro de 2023 – O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou na abertura da Assembleia Geral da Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, nesta terça-feira (19). Durante sua fala, Lula citou as tragédias em decorrência das chuvas que assolam cidades do Rio Grande do Sul, afirmando que os eventos climáticos não são naturais, mas fruto de políticas climáticas ineficientes e intensificadas por desigualdades sociais, além de mencionar outros temas, como o Plano de Transformação Ecológica e a necessidade de uma transição energética. No entanto, faltou ao presidente sinalizar metas claras.

Para o Greenpeace Brasil, a fala do presidente na ONU, após quatro anos de uma política antiambiental, leva o país para o protagonismo ambiental, mas ainda é preciso sinalizar metas importantes: “Estamos diante de um desafio global gigantesco, e o presidente Lula sabe disso. Ele vem posicionando o Brasil como liderança no tema, e tem espaço para isso – em especial quando consegue mostrar resultados estáveis em relação à redução do desmatamento na Amazônia e à implementação de medidas de fomento à transição ecológica. No entanto, para se firmar nesse lugar e poder cobrar dos demais países de maneira sólida e coerente, precisa também abandonar a ideia de abrir novas áreas para exploração de petróleo, lidar com o desmatamento em alta em outros biomas além da Amazônia, como o Cerrado, e superar a visão que o mundo tem do Brasil, de exportador de commodities. Podemos – e queremos – ser mais do que isso”, afirma Carolina Pasquali, Diretora Executiva do Greenpeace Brasil.

Outros pontos do discurso de Lula na ONU

O presidente Lula citou o Plano de Transformação Ecológica: “Apostaremos na industrialização e infraestrutura sustentáveis. Retomamos uma robusta e renovada agenda amazônica, com ações de fiscalização e combate a crimes ambientais. Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%”. 

Para o Greenpeace Brasil, é muito importante que o governo dê status transversal à pauta de clima e meio ambiente e é compreensível que essa iniciativa aponte para o caminho certo. Entretanto, não é aceitável que este movimento seja apenas retórico, que o governo ceda em áreas vitais em detrimento dessa pauta e, apesar de dar um aspecto verde à sua gestão, continue perpetuando lógicas predatórias que tratem a natureza como commodity: “É urgente desenvolver e expandir outros modelos econômicos que gerem emprego e renda e que superem o modelo hegemônico predatório atual de crescimento desenfreado. As políticas de combate à fome precisam ser via agricultura familiar de base ecológica, sem veneno. Precisamos, com urgência, investir em novos presentes e futuros possíveis, que sejam baseados em movimentos circulares de produção e consumo, conscientes da escassez dos nossos recursos e da urgência da crise que vivemos”, afirma Mariana Campos, porta-voz do Greenpeace Brasil.

Ao falar sobre energias renováveis e uma transição ecológica, Lula afirmou que o Brasil está à frente do mundo em relação a transição energética. “Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo, com 87% da nossa energia elétrica de fontes limpas e renováveis”, disse. Entretanto, para o porta-voz do Greenpeace Brasil, Marcelo Laterman, o governo ainda falha em apresentar uma efetiva transição que preveja a substituição gradual dos combustíveis fósseis, como o petróleo, verdadeiro vilão do clima. 

“Lula coloca o Brasil na vanguarda da transição energética e apresenta o dado sobre a matriz de energia elétrica do país, historicamente com relativa baixa emissão de gases de efeito estufa, mas que, mesmo assim, insiste em seguir operando usinas a carvão, que já não são necessárias para a segurança energética brasileira. Além disso, quando olhamos para a matriz energética como um todo, e não só elétrica, nos preocupamos com a falta de perspectiva para uma efetiva transição que preveja a substituição gradual dos combustíveis fósseis como o petróleo – já que sua queima é a principal fonte de emissões no setor. Pior, o governo segue defendendo o avanço da indústria petrolífera em áreas extremamente sensíveis, e fundamentais para o futuro do país, como a bacia da Foz do Amazonas”, finaliza.

O que o Brasil precisa para ser protagonista no combate à crise climática?

“O Brasil tem um papel de relevância e pode atuar como um grande exemplo global de mudanças indispensáveis para evitarmos o colapso climático e da biodiversidade, bem como influenciar outros países a fazerem mais. Mas, para isso, precisará mostrar resultados e se afastar de ações que nos colocam na direção oposta, como  a concessão de subsídios e investimentos a combustíveis fósseis. 

Além disso, será fundamental fomentar uma real transição energética e ecológica que reduza drasticamente as emissões e garanta justiça e respeito aos direitos humanos. O discurso de Lula, hoje na ONU, decepciona ao não dar mais ênfase à pauta ambiental. Isso nos preocupa, pois pode indicar que o governo, apesar de dar um ‘tom verde’ à sua gestão, não dá às pautas climáticas e ambientais a centralidade e transversalidade que elas de fato precisam para promover uma transformação estrutural na sociedade brasileira e consolidar o papel de liderança do Brasil nessa temática”, afirma Camila Jardim, Especialista em Política Climática do Greenpeace Brasil.

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