A partir de setembro, as mudanças climáticas serão tema obrigatório nas escolas da Itália. Um exemplo que deveria inspirar mudanças no Brasil também.

Projeto Escola de Porto Alegre esteve no SENAI Montenegro (RS). Foto: Marcos Azevedo / Greenpeace Brasil

A realidade é dinâmica, assim como todo o funcionamento do planeta. Em algumas centenas de anos conseguimos colocar o futuro da vida no vermelho, aumentando a temperatura média da Terra em 0,87°C (desde o período pré-industrial). Mas diante da possibilidade de que o que está posto só parece estar posto, ainda é tempo de agir.

Boa parte da construção desse caminho foi pautada por uma falsa ideia de que a natureza está a nosso serviço e de que estamos separados dela. Passamos a usá-la de forma descontrolada: usufruimos dos recursos naturais como se fossem infinitos, destruímos nossas florestas e alimentamos modos de produção e consumo nada sustentáveis. 

Com todas essas escolhas passamos a emitir ao longo dos anos quantidades cada vez maiores de gases que intensificam o aquecimento global e hoje vivemos uma crise climática. Chegou a hora de rever o que construímos como sistema de funcionamento do mundo e nos tornarmos agentes de uma mudança necessária e urgente. 

“Quando a gente nasce, já existe uma cultura de comportamento, de pensamento, enfim, de vários aspectos da nossa existência que já foram construídos pelos nossos antepassados. Só que todos nós também somos produtores de cultura, ou seja, a cultura não apenas me forma, mas eu também a construo a partir da consciência que adquiro dela”, explica Gabriela Marques, educadora com foco em desenvolvimento humano e social e consultora do Greenpeace Brasil no Projeto Escola (leia mais sobre o Projeto Escola ao final do texto).

Se vivemos uma crise climática, esse é um tema para o qual precisamos olhar e com o qual precisamos aprender a lidar. Quem sou eu diante dessa realidade? Como ela me afeta e como eu me relaciono com ela? O que está ao meu alcance se eu quiser me tornar um agente de mudança? Para falarmos sobre o desenvolvimento do olhar autônomo, crítico e da possibilidade real da ação transformadora, precisamos olhar de perto para o papel da educação e da escola.

“A educação é inerente à vida e acontece em diferentes âmbitos: no informal, à medida que você se relaciona com o mundo – consigo mesmo, com o outro e com o ambiente; no formal, que é a que se dá no ambiente de ensino-aprendizagem (escolas, universidades, etc.); e no não formal (ONGs, instituições religiosas ou outras práticas consideradas extras ao ambiente formal)”, explica Gabriela.

Uma vez que a escola é um dos principais lugares onde a educação acontece, cabe a ela garantir o direito de acesso a ferramentas de construção de um conhecimento que acompanhe as mudanças da vida, e garantir também o espaço da construção do olhar crítico para a realidade.

“Se a educação não for algo pé no chão, atrelada às mudanças que são inerentes à vida e à construção de uma sociedade, ela deixa de fazer sentido”, afirma Gabriela.  

Mudanças climáticas e a sala de aula

Enquanto a Itália torna-se o primeiro país a colocar as mudanças climáticas como tema obrigatório nas escolas públicas, o Brasil ainda luta para defender a ciência de um governo composto por negacionistas do clima; o mesmo ainda insiste em defender a continuidade da exploração desenfreada dos recursos naturais e não mede esforços para fazer com que a população não apenas desacredite dos dados científicos como, a partir da falta de conhecimento do assunto, não ocupe o lugar que lhe é de direito de interferir em sua própria realidade.

“Se não entendermos do que o mundo está falando e o que estamos vivendo, e não aprendermos a lidar com as mudanças climáticas, estamos dando as costas à nossa própria existência. Se a escola não se renova, se não são feitas as transformações necessárias na cultura da construção do conhecimento, não há transformação social e efetiva, e a cultura – que reflete um jeito de ser e estar no mundo – junto com suas mazelas, continua se perpetuando na história da humanidade”, defende Gabriela.

Quando vimos milhões de jovens saindo às ruas, cobrando por ações imediatas e questionando o futuro que estamos construindo, não há mais dúvidas de que há uma geração disposta a reavaliar os próprios hábitos, a mudar o que supostamente encontraram como realidade construída (o que falsamente parece estar posto) e a fazer diferente.

Em vez de olharmos para as greves pelo clima como um dia em que esses jovens faltam às aulas, deveríamos olhar para essa ação de um outro jeito: a escola precisa ser o lugar de onde crianças e jovens saem seguras, com apoio e informação para colocar a mão na massa e recriar sua própria realidade, se assim quiserem. 

Voluntários do Projeto Escola em Manaus. © Grupo de Voluntários de Manaus / Greenpeace

Projeto Escola

O Projeto Escola é uma das principais frentes de trabalho dos voluntários do Greenpeace Brasil. Procurados por escolas públicas e particulares, os voluntários fazem palestras e atividades sobre meio ambiente e as principais campanhas da Organização. O Projeto tem como objetivo aproximar crianças e jovens estudantes de questões que são fundamentais para a vida hoje, como é o caso da crise climática.  

Histórico de leis e acordos que conectam educação e clima
No final dos anos 90, foi criada a Política Nacional de Educação Ambiental, sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. De lá pra cá, infelizmente, a Política foi deixada de lado e não existiu nenhuma intenção do governo de tornar o tema estratégico e promover ações, travando a entrada da educação ambiental e climática nas escolas.

Anos depois, em 2012, durante a Convenção de Clima da ONU, em Doha, o Brasil foi um dos signatários do Programa de Trabalho de Doha sobre o Artigo 6 da Convenção. O Artigo 6 também é conhecido como Ação Para o Empoderamento Climático (ACE). O documento, no que diz respeito à implementação, determina que os países signatários devem dar suporte técnico e financeiro para a pessoa responsável por estruturar as políticas de ACE desenvolver ações de empoderamento climático em nível nacional.

Ao se tornar signatário desse acordo, o Brasil concordou com um esforço de implementação de uma política nacional sobre ACE, ou Empoderamento Climático, que no contexto também envolve Educação Climática. O fato é que o governo muito pouco ou quase nada fez desde então no que diz respeito à educação climática no Brasil; nenhuma lei foi articulada com o Congresso, Senado ou Ministério da Educação.

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