Unilever, Mondelez, Nestlé e Procter & Gamble (P&G) compraram óleo de palma de empresas ligadas a incêndios florestais na Indonésia em 2019

Incêndios florestais e em plantações no subdistrito Jekan Raya, cidade de Palangkaraya, Kalimantan central, Indonésia.

A floresta tropical da Indonésia é, junto com a Amazônia e a Floresta do Congo, uma das maiores florestas do mundo e lar de animais únicos e populações tradicionais. Mas, assim como o Brasil, a floresta está ameaçada pelo avanço de um modelo de produção agrícola que não respeita nada nem ninguém e que continua a ser replicado em todo o mundo, com a conivência de grandes produtores internacionais de bens de consumo.

É o que constatou, mais uma vez, recente análise do Greenpeace Internacional. Segundo o levantamento, as empresas Unilever, Mondelez, Nestlé e Procter & Gamble (P&G), e os principais comerciantes de óleo de palma, incluindo as negociantes de commodities Wilmar e Cargill, estão comprando óleo de palma de produtores responsáveis por milhares de incêndios na Indonésia este ano. Essas companhias estão ligadas a mais de 10.000 focos de fogo detectados em 2019.

O óleo de palma é um produto amplamente usado na indústria de bens de consumo, em diversos produtos, que vão desde condicionadores de cabelo e biocombustível a bolachas recheadas e salgadinhos. O produto é um dos principais vetores de perda de florestas na Indonésia.

Grandes comerciantes globais de commodities, como Wilmar, Cargill, Musim Mas e Golden-Agri Resources (GAR), têm amplos vínculos com os incêndios deste ano na Indonésia e, juntos, são responsáveis por cerca de 60% do fornecimento global de óleo de palma.

A nova análise do Greenpeace mostra que há uma grande sobreposição entre essas empresas e os produtores de óleo de palma considerados culpados em tribunais por incêndios ilegais e com as maiores áreas queimadas em 2015 a 2018.

“As empresas criaram uma fachada de sustentabilidade. Mas a realidade é que elas compram dos piores criminosos, em todos os lugares. As empresas responsáveis pelos incêndios e que se beneficiam financeiramente devem ser responsabilizadas por esses crimes ambientais e pelos impactos devastadores à saúde causados pelos incêndios ”, disse Annisa Rahmawati, da campanha de florestas do Greenpeace Indonesia.

Mais de 900 mil pessoas na Indonésia sofreram infecções respiratórias agudas devido à fumaça dos incêndios deste ano, e quase 10 milhões de crianças correm risco de danos físicos e cognitivos ao longo da vida devido à poluição do ar. Entre 1º de janeiro e 22 de outubro de 2019, os incêndios liberaram cerca de 465 megatoneladas de CO2, o que é quase o mesmo que as emissões anuais totais de gases de efeito estufa do Reino Unido.

A família Saipin usa máscaras de proteção para assistir às orações de Idul Adha, na mesquita de Darussalam, enquanto a a fumaça dos incêndios florestais cobre a área na cidade de Palangkaraya, Kalimantan Central, Indonésia. Diversas províncias tiveram decretado Estado de Emergência

As novas descobertas vieram à tona no mesmo período em que as empresas participavam das reuniões da Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO) na Tailândia. Essa organização sem fins lucrativos criada pela indústria certifica o óleo de palma de seus membros como sustentável, e atestar que os produtos são “sem queimadas” é um critério-chave. No entanto, mais de dois terços dos produtores de óleo de palma com o pior registro de incêndios e todas as empresas analisadas pelo Greenpeace são membros da RSPO, alguns até membros do conselho.

A produção global de commodities – como a soja e o óleo de palma – é a maior fonte de emissão de gases do efeito estufa do mundo, principalmente associadas ao desmatamento de florestas. Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, proteger e restaurar florestas e reformar urgentemente o sistema global de produção de alimentos são as principais soluções para a emergência climática e social que vivemos.

As empresas globais se comprometeram a interromper o desmatamento até 2020, mas, em vez disso, a perda de florestas se acelerou e o desmatamento impulsionado por commodities é a principal causa disso.

Os governos de todo o mundo ainda não implementaram ações sérias contra empresas ou produtos ligados aos incêndios e a destruição de florestas. O Greenpeace exige que as empresas responsáveis e que estão lucrando com a destruição florestal sejam responsabilizadas.

Seja no Brasil, na Indonésia, no Congo ou na Rússia, empresas e governos precisam avançar na proteção ambiental para muito além do discurso. Pelo bem do clima e do futuro de toda a humanidade.

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