Injustiças climáticas e garantia de envolvimento da sociedade civil na construção de políticas de adaptação foram temas debatidos

A primeira aula do Adaptajuv: advocacy, adaptação e juventudes pelo clima, um programa de formação em advocacy climático, realizado pelo Greenpeace Brasil, em parceria com o Instituto Clima de Eleição, contou com a presença de cerca de 106 pessoas. 

A diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, deu as boas vindas à turma, formada por integrantes de 50 organizações das Regiões Metropolitanas de São Paulo (10), Manaus (12) e Recife (28). Em sua fala, destacou a relevância do programa para a construção de diálogo e de cidades preparadas para a realidade climática, com garantia de resiliência para todas as pessoas. 

“Este grupo, por si só, é uma baita experiência e pode proporcionar trocas interessantíssimas para a construção de políticas públicas. Acredito que essa formação pode ser uma oportunidade de darmos um próximo passo em direção a cidades que se preparam e acolham suas populações. Quando a gente fala em advocacy, a gente pensa numa caixa de ferramentas que pode e deve ser usada. É assim que a gente melhora a política pública para que ela faça mais sentido”, comemora Pasquali.

A mudança precisa ser radical 

Aloísio Melo, diretor de políticas de mitigação do MMA, comemorou o encontro e o definiu como um espaço de troca importante, ressaltando que vivemos um momento histórico, em que a pauta climática está sendo abordada de forma transversal no governo federal. 

“A gente sabe que vocês, juventudes, vão vivenciar os impactos das mudanças climáticas por muito mais tempo e de forma mais intensa. Por isso, precisamos de iniciativas como esta para mobilizar toda a energia necessária ao enfrentamento dos desafios que a mudança do clima impõe. A agenda climática só vai estar presente com a dimensão que requer, de fato, quando tiver vários sinais, inclusive por parte da sociedade civil, de que sim, ela deve ser priorizada por todos os poderes”, afirmou Melo.

Inamara Melo, coordenadora-geral de Adaptação à Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), começou a aula ressaltando o quanto ainda são insuficientes as ações para reduzir os gases de efeito estufa, que agravam a crise climática. E chamou a atenção para a importância das informações já disponíveis serem consideradas no enfrentamento dessa realidade e do agravamento das desigualdades.

“Precisamos dar um cavalo de pau na nossa forma de estar no mundo. Cerca de 1 bilhão de crianças e adolescentes estão extremamente expostas aos impactos das mudanças climáticas. Precisamos entender como as novas gerações estão vulneráveis a essa crise e assegurar que elas herdem um planeta habitável. Os dados são alarmantes, mas não devem nos paralisar diante desse enorme desafio. O meu apelo para vocês é que todo mundo se mobilize porque tem jeito!”, afirmou Inamara Melo.

Durante a aula, foram expostos dados sobre o panorama mundial de desastres climáticos, como o fato de termos tido uma média de 61 mil óbitos por ano nas últimas duas décadas, e o Brasil estar no mapa dos 10 países com mais mortes após inundações e enchentes, segundo um estudo do Banco Mundial.  

A crise do clima e o impacto nas novas gerações

E como a participação no programa é majoritariamente de jovens, Inamara expôs dados relevantes que conectam essa geração com a crise climática. 

“Entre a população de 221 milhões de brasileiros, há cerca de 40 milhões de jovens. 10,6 milhões de crianças e adolescentes com idades entre 0 e 14 anos (vivem) na extrema pobreza, com renda domiciliar per capita de ¼ de salário mínimo”, indicava um dos slides da apresentação.

“Esta população está fortemente sujeita a enfrentar problemas relacionados a essa exposição, pois vivem sob condições de moradia precária, em situação de risco, com dificuldade de acesso à água potável e outros direitos básicos. É preciso enfrentar os crescentes desafios e proteger a dignidade humana, considerando as vulnerabilidades das novas gerações”, completou.

Os moradores da Vila Sahy, local mais impactado durante as chuvas em São Sebastião, no primeiro semestre de 2023, viram suas casas serem soterradas e vidas serem ceifadas não somente pela ganância da fatia mais rica da população, como também pela falta de políticas públicas de prevenção e adaptação para garantir cidades seguras. © Diego Baravelli / Greenpeace

Como o Brasil vai agir?

Considerando o grave contexto de desigualdades, Inamara disse ser importante responder à pergunta: “Como pretendemos consolidar a agenda climática no Brasil?”. Agenda essa que precisa frear as emissões, mas também o aprofundamento das injustiças e a promoção do racismo ambiental. 

Entre as ações planejadas, ela citou o trabalho que está sendo feito em torno do Plano Clima, que consiste em uma estratégia nacional orientadora das ações de redução das emissões (mitigação) e de adaptação, com metas a serem cumpridas até 2035. 

Inamara ressaltou ainda que a elaboração de ações específicas se desdobram nos planos setoriais, que orientam estratégias em diferentes frentes, como saúde, educação, transporte, gestão de risco, enfrentamento das desigualdades, entre outros.

Além disso, o Plano Clima prevê estratégias transversais para garantir a transição justa, o diálogo, os meios de implementação, monitoramento e acompanhamento desse processo. 

Ao final, os jovens participantes das organizações e movimentos sociais fizeram perguntas sobre, principalmente, como será a participação popular e a garantia das diversas vozes na construção de políticas que promovam a adaptação e resiliência às populações mais impactadas. 

A coordenadora-geral de Adaptação à Mudança do Clima do MMA afirmou que estão sendo feitas articulações com outros ministérios, como o Ministério dos Povos Indígenas, e com organizações da sociedade civil, e as diferentes perspectivas deverão ser consideradas também nos planos setoriais.

Para além disso, existem outros processos que visam garantir a participação da sociedade civil, como o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, um catalisador da participação da sociedade na elaboração do Plano Clima, e seminários abertos para gestores públicos, representantes da sociedade civil, do setor empresarial e da Academia. 

A primeira fase do Adaptajuv segue com aulas online até o mês de novembro para as organizações selecionadas. Para saber mais, clique aqui.

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