Quem responde é uma turma que não aceita o que está posto e que é fundamental na luta contra a emergência climática

Conversamos com três brasileiras que participaram da Greve Global pelo Clima, uma mobilização que aconteceu em 185 países e levou às ruas mais de 6 milhões de pessoas entre os dias 20 e 27 de setembro.

Ouça o que a Yasmim Rodrigues, de 19 anos, voluntária do Greenpeace no Amapá, tem a dizer:


(ao final do blog, você encontra a transcrição de todos os áudios)

Para uma juventude que nasceu em uma sociedade que pouco consegue participar dos espaços garantidos por lei para influenciar políticas e decisões públicas até mesmo de sua própria cidade, os jovens estão indo muito além de tudo o que os adultos fizeram até então quando o assunto é emergência climática.

Suas ações vão de escolhas individuais, como a redução do consumo de carne para não compactuar com o desmatamento da Amazônia – algo que ouvimos de vários daqueles com quem convivemos de perto nos dias que antecederam a Greve Global pelo Clima – , à decisão de lutar por uma causa coletiva e ocupar espaços públicos para cobrar de governos, empresas e toda a sociedade o enfrentamento da emergência climática.

Através do movimento mundial Fridays For Future, que em português significa Sextas pelo Futuro, o protagonismo jovem vem sinalizando que tem uma geração aí que simplesmente decidiu não aceitar o que está posto, que resolveu colocar a mão na massa e que está inclusive se fazendo presente nos espaços de tomada de decisão.

A Sarah Lima, 22 anos, ativista do clima em Fortaleza (CE), também deixou um recado sobre o que significa pra ela sair às ruas por algo que acredita e defende:

Em sua obra “Educação como prática da liberdade”, Paulo Freire* diz: “não estamos apenas no mundo, mas com o mundo”. E ter em nossas mãos a possibilidade de transformá-lo é um direito. Só que enquanto nem todos conseguimos equilibrar participação política com a luta diária pela sobrevivência, a juventude nos dá fôlego e também a esperança de que ainda é tempo de transformar o que está posto.

A Francielle da Silva, 22 anos, mobilizadora climática em Porto Alegre (RS), e voluntária do Greenpeace, também deixou um recado sobre esse fôlego necessário que a juventude vem trazendo.

A emergência climática é uma realidade comprovada pela ciência e não temos mais tempo a perder. Novas mobilizações pelo clima continuarão surgindo e, se você ainda não participou de nenhuma delas, nosso convite é que encare este momento como uma possibilidade de conversa sobre o que está ao nosso alcance quando falamos de ações humanas que desequilibram o clima no planeta. Precisamos clarear os caminhos sobre como podemos cobrar empresas e governos para que tomem uma atitude. Cabe a todos escutar o que a juventude está dizendo, apoiar e agir.

Faça parte desse movimento!

(*FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000a.)

Transcrição dos áudios:

Yasmim Rodrigues, 19 anos, voluntária do Greenpeace em Macapá, estado do Amapá

“Meu nome é Yasmim Rodrigues, eu sou do Amapá, sou voluntária da Greenpeace; e eu vejo a ocupação das ruas através de uma ação direta, na qual nos colocamos como repassadores das informações, como uma maneira de trazer a visibilidade que a gente tanto espera pra causa e também como uma maneira de popularizar as demandas ambientais. E, fazendo isso, a gente acaba promovendo um interesse da população sobre a temática, porque o que eu tenho observado é que as críticas mais expressivas sobre esse ativismo ambiental, sobre a Greve Climática e sobre a pauta da Emergência Climática, é que as pessoas estão falando que esse movimento, que essas demandas, que esse ativismo é excludente e elitista, e quando a gente populariza fazendo com que várias pessoas tenham acesso à informação, a gente acaba desconstruindo essa imagem que foi construída de alguma forma – e algumas pessoas que teceram críticas mais expressivas, mais diretas e até um pouco mais… é… não seria “radicais” a palavra, mas até um pouco mais ofensivas sobre esse ativismo, a gente faz com que essas pessoas tenham uma visão diferente. E eu acho extremamente importante que essas pessoas que vivem numa realidade totalmente diferente da nossa, num contexto social diferente, eu acho extremamente importante você mostrar justamente para essas pessoas que a pauta ambiental não é excludente e que o viés dela também é social”.

Sarah Lima, 19 anos, Fortaleza (CE)
“As ruas são espaço nosso por direito e constituem o local onde a gente encontra gente de todo tipo e de diferentes realidades. Nas ruas, a gente também tem a liberdade de se expressar, de intervir e de deixá-las mais parecidas com o que a gente é. Assim, é muito importante dar vazão àquilo que acreditamos, que nos move e que nos incomoda. Ao sairmos da zona de conforto e nos desafiarmos a ir às ruas, temos a oportunidade de levar informações, questionamentos e inquietações sobre uma luta que talvez quem esteja passando por ali e esteja ouvindo despretensiosamente ainda não conheça. É uma oportunidade de atingir novas pessoas, de trocar conhecimento e de conhecer realidades diferentes que de alguma forma se conectam e podem unir forças por algo maior”.

Francielle da Silva, 22 anos, Porto Alegre (RS)

“Infelizmente, nós estamos em um momento de emergência climática. Há anos, na verdade, né… e vem se agravando cada vez mais. Eu não vejo mais não cogitar a hipótese de estar em locais públicos para falar com a população sobre isso. Muitas vezes, com a rotina corrida que muitas pessoas têm em questão de estudar, trabalhar e seus afazeres, eles não têm tempo para se interessar sobre essas questões, né. Então, eu vejo essas mobilizações nas ruas como pequenas sementes de alerta que a gente planta na cabeça das pessoas. Eu vejo essa nova geração um pouco mais conscientizada do que algumas outras e com muito potencial pra conseguir mudar a situação que a gente vive atualmente em relação à poluição ambiental”.

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