Brasil patina quando se trata do comprometimento real com fim dos combustíveis fósseis e negociações na Conferência do Clima repercutem

Lula fez um tour pelo Golfo Pérsico antes mesmo de chegar à COP28 © Ricardo Stuckert/PR

A participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na COP28 chegou ao fim neste sábado (2), no terceiro dia da conferência, que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O governo brasileiro compareceu ao evento com uma delegação de peso, mas reuniões com grandes produtores e exportadores de petróleo, assim como o anúncio da entrada do Brasil na Opep+, acenderam um alerta para organizações ambientalistas.

“Acho importante a gente participar, porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis, e se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram para fazer investimento para que os continentes como o africano e a América Latina possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam, sobretudo o hidrogênio verde”, justificou Lula.

O anúncio da entrada brasileira no bloco petroleiro acontece após uma série de “encontros polêmicos”, diga-se de passagem.

Antes mesmo de chegar à conferência, o mandatário realizou um tour pela Arábia Saudita, maior produtor de petróleo do mundo, Catar e Emirados Árabes, com o objetivo de obter investimentos e consolidar parcerias comerciais. Uma comitiva de 14 ministros participou das negociações no Golfo Pérsico. 

Presidente cobrou países mais desenvolvidos para que apresentem metas mais ambiciosas © Stuart Wilson/COP28

O movimento gera preocupação e desponta a contradição central do governo: como ser liderança climática pelo exemplo, como disse o presidente no discurso da abertura da COP, atuando de forma próxima aos países que carregam a assinatura da crise climática e sem se opor veementemente à expansão do petróleo em áreas sensíveis, como a Bacia da Foz do Amazonas?

“O Brasil diz uma coisa, mas fez outra na COP 28. É inaceitável que o mesmo país que diz defender a meta de limitar o aquecimento global em 1.5º, agora esteja anunciando o seu alinhamento ao grupo dos maiores exportadores de petróleo do mundo”, critica Leandro Ramos, porta-voz do Greenpeace Brasil.

O diretor de Programas da organização acompanha a COP 28 presencialmente, e observa que, apesar de ainda não ser possível saber qual será o formato da Opep Plus, é de conhecimento público que a Opep funciona como um cartel para influenciar o preço internacional do petróleo por meio do controle da oferta.

“Anunciar a entrada do Brasil na organização em pleno ano de 2023, enquanto deveríamos estar preocupados em acelerar a transição energética do país e criar planos para eliminar os combustíveis fósseis progressivamente, é uma decisão completamente equivocada e perigosa, além de ser uma maneira errada de começar a construir pontes para a COP 30, que acontecerá em Belém em 2025”, reitera.

Ramos argumenta que não basta o governo brasileiro se comprometer em zerar o desmatamento, apenas. “O governo brasileiro precisa se posicionar contra os combustíveis fósseis se quer assumir um papel de liderança climática mundial. Essa incoerência poderá colocar em xeque a sua posição para cobrar metas mais ambiciosas dos países desenvolvidos e custará caro à política climática brasileira”.

Não há dúvidas de que os planos de expandir fronteiras de exploração de petróleo em regiões ambientalmente sensíveis, como a Bacia da Foz do Amazonas, enfraquece o comprometimento brasileiro com o enfrentamento à crise climática.

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