Mariana Faria, voluntária do Greenpeace, escreve sobre os impactos das enchentes na região metropolitana de Belo Horizonte

Muitas casas do município de Juatuba (MG), inclusive a da família de Mariana, e residências de outras cidades mineiras foram invadidas pela água e pela lama (Foto: Arquivo pessoal)

O alto volume de chuvas que caiu sobre a cidade de Juatuba, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), entre os dias 05 e 10 de janeiro, causou enxurradas, inundações de moradias e vários deslizamentos. A cidade ficou praticamente embaixo d’água após o Rio Paraopeba atingir sua capacidade máxima. O mesmo já havia acontecido em 2016.

Durante a madrugada do dia 08 de janeiro, fomos informados pela Defesa Civil de vários pontos alagados na cidade, principalmente nos bairros que estão abaixo do nível do rio.

A tempestade chegou logo ao amanhecer. Devido à correnteza que se formava e ao aumento rápido do volume de água, alguns dos meus familiares precisaram ser retirados de casa por meio de embarcação. Eles ficaram alojados em nossa residência, que apesar de ficar ao lado do rio, está localizada em um nível bem alto de seu curso e por isso não foi tão afetada.

Juatuba é um município cortado por diversos córregos, entre eles o Ribeirão Serra Azul, Ribeirão Mateus Leme, e pelo Rio Paraopeba, sendo o solo da região constituído por filito, um tipo de rocha amplamente usado na construção civil.

A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou que os reservatórios do Sistema Paraopeba estavam com sua capacidade máxima. Com isso, os níveis dos ribeirões também aumentaram, ultrapassando a altura do Pontilhão (linha de trem férrea que passa por cima do Rio Paraopeba) e sobre as pistas de passagem da MG-050 sentido Betim e BR-262 sentido Pará de Minas e Belo Horizonte.

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A chuva era constante e forte, gerando grandes enxurradas e nos impossibilitando de sair de casa. Houve corte de energia elétrica, de água, queda de galhos de árvores, alagamentos, deslizamentos, rompimento de uma adutora da Copasa, queda do encabeçamento da ponte e descargas elétricas. A situação de calamidade pública foi decretada no dia 10 de janeiro pelo prefeito, com validade de 90 dias.

Com a diminuição das chuvas no dia seguinte, os níveis dos ribeirões começaram a voltar ao normal. A gestão municipal iniciou as ações de limpeza e uma campanha de arrecadação de doações para os atingidos em maior situação de vulnerabilidade.

A população vem se mobilizando com ações de solidariedade e trabalho voluntário, mas se encontra preocupada com a contaminação e degradação dos recursos hídricos da região, já que o rio Paraopeba foi atingido pelo rompimento da barragem de Brumadinho em 2019. Os rejeitos de mineração ainda se encontram presentes, podendo levar à contaminação dos ribeirinhos e de outros corpos d’água.

A sensação de medo, desespero e indignação ainda permanecem. Estamos avaliando os estragos, mas é muito triste perceber que famílias perderam suas moradias, documentos e alguns a forma de sustento, para uma tragédia que poderia ser evitada ou mitigada se a Prefeitura de Juatuba tivesse implementado um Plano de Contenção de Enchentes nos últimos anos.

Moradores de Juatuba precisaram ser retirados das áreas atingidas de barco, com apoio do Corpo de Bombeiros (Foto: Divulgação/CBMMG)

O ano de 2022 não começou bem para o estado de Minas Gerais como um todo, já que outras regiões também foram duramente afetadas pelas chuvas. Ouro Preto perdeu um pouco da sua história com os deslizamentos e enchentes. Macacos, região de Nova Lima, ficou ilhada devido ao transbordamento dos rios, deslizamentos de terras e pela a água que transbordou da barragem de contenção construída pela Vale para conter rejeitos das barragens B3 e B4, no caso de um eventual rompimento.

A captação de água que abastece a região metropolitana está correndo sérios riscos. E pior: os moradores de Macacos, Nova Lima, Raposos e Rio Acima estão também correndo sérios riscos por conta de outras barragens de rejeitos da Vale que estão em alerta máximo.

Mariana Faria é moradora do bairro Cidade Satélite, em Juatuba (MG)


A famosa expressão popular: “Vão-se os anéis e ficam os dedos”, nos diz que, perde-se o secundário, mas preservamos o mais importante: as nossas vidas.

Analisando o descaso das autoridades e da humanidade para com a ciência e, especialmente, para o agravamento da crise climática e para quanto os atos descontrolados de exploração impactam o planeta, podemos chegar ao momento em que nem o que há de mais importante para ser preservado existirá.

*Mariana Faria faz parte do grupo de voluntários e voluntárias do Greenpeace Brasil em Minas Gerais

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