O histórico problemático da Fazenda Santo Expedito é mais um caso para que os bancos tenham ações mais rigorosas para evitar que dinheiro, via crédito rural ou financiamento, seja usado por quem destrói os biomas brasileiros.

Localizada em Altamira (PA), a fazenda Santa Rosa apresentou focos de fogo entre os dias 24 de julho e 13 de agosto de 2019. © Christian Braga / Greenpeace

Em 10 de agosto, o Dia do Fogo completou cinco anos, deixando um legado de impunidade para os fazendeiros locais supostamente envolvidos na ação criminosa no estado do Pará. Em dois dias, o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE) detectou 1.457 focos de fogo na região, resultando em um aumento de 1.923% em comparação ao mesmo período no ano anterior. Na época, os proprietários de terra apostaram na destruição da Amazônia para demonstrar apoio ao enfraquecimento da gestão ambiental no país.

Cinco anos mais tarde, o Greenpeace Brasil revisitou as 478 propriedades onde foram identificados focos de fogo, durante os dias 10 e 11 de agosto de 2019, e constatou que essas propriedades seguem com altos índices de desmatamento e queimadas recorrentes. As áreas destruídas pelo desmatamento e o fogo deram espaço para a expansão da agropecuária. 

Um outro ponto que chamou atenção também foi que 29 propriedades envolvidas no evento receberam recursos do crédito rural de alguns bancos (Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Sicredi e John Deere), totalizando 127 transações e o montante de R$ 201.418.002,16 – sim, aquele crédito composto pelo seu suado dinheirinho, têm sido entregue a gente que desmata e queima as florestas.

A análise de como essas propriedades receberam financiamento e seguem impunes, na maioria dos casos, está disponível neste documento. Abaixo, detalhamos o caso do fazendeiro Marcus Vinicius Carneiro Torres de Paula para mostrar como o nosso dinheiro pode estar relacionado a um modelo produtivo permeado de ilegalidades e impunidade.

Uma das propriedades de Marcus Vinicius que conseguiu financiamento, via crédito rural do Banco do Brasil, está localizada no município de São Félix do Xingu. A “Fazenda Santo Expedito I e II- Lote 16 e 17 Setor E” acumulou um desmatamento de 932,63 hectares entre 2008 e 2021. O empréstimo foi concedido logo após a propriedade ter sido embargada por uso ilegal de fogo.

Desmatamento acumulado na Fazenda Expedito I e II (2008-2022). Fonte: Elaboração do Greenpeace Brasil com base no Sistema Papa-Alpha (2023); PRODES (2022). As cores do desmatamento quanto mais claras mais próximas de 2008, e mais escuras com ocorrência mais recente, próximas a 2022.

Em 10 de agosto de 2019 foram registrados quatro focos de calor sobre a propriedade de Marcus Vinicius. As imagens mostram uma porção da propriedade com cinzas proveniente de queima, dias depois há o registro da cicatriz de área queimada.

Cinzas e cicatrizes de área queimada em agosto de 2019. Fonte: Elaboração do Greenpeace Brasil com base em imagens Planet (2019).

  • Cerca de quarenta dias depois do registro da área queimada, o IBAMA embargou a Fazenda Expedito I e II com multa associada pelo uso ilegal de fogo;
  • Um dia após o embargo, recebeu uma outra multa por infração à flora. Juntas, elas somam R$ 932.580 mil reais;
  • Já em 2020, o fazendeiro recebeu outro embargo emitido pela SEMAS/PA por desmatamento ilegal de 260 hectares na mesma fazenda.

O Banco do Brasil concedeu dois empréstimos à propriedade, sendo que o primeiro foi onze dias depois do embargo do IBAMA com a finalidade de investimento para pastagem e o segundo, pouco antes do registro de embargo estadual registrado na SEMAS/PA, para a aquisição e manutenção de animais. Juntos, os empréstimos somam mais de R$ 1.500.000,00 de reais. 

Além disso, a fazenda em questão comercializou gado indiretamente com a JBS. Dados de movimentação de gado  registrados entre janeiro de 2020 e julho de 2023, demonstram um fluxo de animais que se iniciava na Fazenda Santo Expedito I e II rumo à Fazenda Santa Terezinha, cujo proprietário também é Marcus Vinicius e, através dela, comercializou com a JBS. Ao contrário da Fazenda Santo Expedito, que acumula problemas ambientais, a Fazenda Santa Terezinha está em conformidade e pode estar sendo utilizada para a lavagem de gado. Essa prática ocorre quando o fazendeiro transporta o gado criado em uma área irregular para uma área regular, conseguindo driblar as regras de fiscalização ambiental para vender o gado a frigoríficos, entre eles a JBS. 

Fluxo de gado da Fazenda Santo Expedito I e II. Fonte: Elaboração Greenpeace Brasil com base em dados de movimentação de gado (2024)  e FRIBOI (2024).

O caso da Fazenda Santo Expedito mostra que nosso suado dinheirinho, que paga os impostos e muitos boletos, pode ter financiado essas atividades que destruíram e queimaram a Amazônia. Isso acontece porque parte do dinheiro que compõe o crédito rural vem de recursos dos contribuintes e das contas correntes dos bancos que operam esse tipo de financiamento. As instituições financeiras precisam impedir que isso aconteça porque quem financia atividades que destroem o meio ambiente também é parte do problema.

“É injusto que proprietários que desmataram e queimaram enormes áreas tenham acessado recursos do crédito rural, que conta com o nosso dinheiro, enquanto, em alguns casos, devem grandes montantes em multas ambientais. É necessário que os bancos neguem crédito para o agronegócio que fez uso do fogo de maneira criminosa, como o visto no Dia do Fogo. Essa é uma das demandas do Greenpeace aos bancos para suprir as lacunas e falhas que permeiam a concessão de crédito rural”, comenta Thaís Bannwart, porta-voz de Florestas do Greenpeace Brasil.

No relatório “Bancando a Extinção”, o Greenpeace apresentou uma série de demandas às instituições financeiras, incluindo o Banco do Brasil, e a situação acima reforça a importância da rápida adoção das demandas, com destaque para: 

  • Os bancos devem verificar antes da concessão do crédito e periodicamente o cumprimento dos critérios socioambientais e se, constatado descumprimento, suspender a concessão e/ou liquidar antecipadamente a operação; 
  • Proibir a concessão de crédito para imóveis rurais que tenham usado fogo de maneira ilegal; quando identificado desmatamento, solicitar a apresentação da autorização; incluir em seus critérios de concessão de crédito rural para produtores a rastreabilidade da pecuária para impedir a lavagem de gado.

A sociedade não compactua com o desmatamento e nem deseja que seu dinheiro seja destinado, seja via crédito, seja via investimentos, para atividades que ajudam a consolidar um cenário de clima instável e extinção dos nossos biomas. Assine a petição e participe da campanha “Bancando a Extinção” que exige que os bancos parem de financiar desmatadores. 

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!