Com a mensagem “nossa sobrevivência está em jogo”, lideranças de oito etnias diferentes do Brasil exigiram a proteção das florestas e a responsabilidade das empresas em não comprar produtos ligados ao desmatamento
- Indígenas brasileiros protestam na reunião de cúpula das indústrias de comida processada, em Berlim, Alemanha, nesta quinta (24); na foto, Kretã Kaingang, do Paraná, expõe a irresponsabilidade das indústrias ao comprar carne e soja vindas do desmatamento da Amazônia e do Cerrado
- Durante o protesto, o tronco de uma árvore foi queimado, como símbolo das queimadas que vêm se intensificando na Amazônia
- Sonia Guajajara, Angela Kaxuyana e Célia Xakriabá, três das quatro mulheres integrantes da Jornada Sangue Indígena, cantam em frente ao edifício onde se reuniram as indústrias de alimentos processados
- As lideranças indígenas tentaram, de forma pacífica, ter acesso à reunião – afinal, produtores de comida industrializada com ingredientes do desmatamento da floresta deveriam escutar as pessoas que moram na floresta -, mas foram barrados na entrada
- A Jornada Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais é realizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio de organizações; na foto, Alberto Terena, do Mato Grosso do Sul – um dos estados mais afetadas pela violência no campo, cometida principalmente por empresas do agronegócio de soja e milho transgênicos
- Ativistas do Greenpeace Alemanha também estiveram no protesto contra os grandes produtores de alimentos industrializados, em Berlim
As lideranças da “Jornada Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais”, realizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), protestaram pacificamente nesta quinta (24), em Berlim, em frente ao edifício onde ocorria a reunião de sustentabilidade do Consumer Goods Forum (CGF) – uma cúpula formada pelas maiores indústrias alimentícias do mundo.
Entre os participantes da reunião do CGF, estavam as maiores marcas de alimentos industrializados e ultraprocessados do mundo, como Nestlé, Unilever, Cargill e Mondelēz. “As indústrias que vocês representam têm parte na responsabilidade pelas ameaças que os indígenas vêm sofrendo no Brasil. Tudo está em jogo: a floresta Amazônica, o clima e a nossa sobrevivência”, disse Sonia Guajajara, uma das lideranças da Jornada.
Desde janeiro, o número de invasões de Terras Indígenas (TI) dobrou, e os ataques contra territórios dos povos originários aumentou 44% em relação ao mesmo período de 2018, de acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Os invasores, que costumam estar fortemente armados, entram nas TI para desmatar e explorar minérios ilegalmente.
Durante o protesto pacífico, ativistas do Greenpeace Alemanha levaram um tronco queimando com as palavras “parem de matar as florestas”, como uma forma de simbolizar as queimadas que vêm destruindo a floresta Amazônica para dar lugar a grileiros, ao agronegócio irresponsável e ao garimpo ilegal.
Gesche Jürgens, da campanha de florestas do Greenpeace Alemanha, disse que “a indústria precisa tomar para si a responsabilidade pelo impacto que provoca, e parar de comprar de quem destrói a floresta. Governos europeus devem forçar legalmente as indústrias a não vender produtos que violam os Direitos Humanos e as regulamentações ambientais, ou que contribuam para o desmatamento.”
Em 2010, o CGF prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia, e estipulou o ano de 2020 como prazo final para bater essa meta. O plano era criar uma rede de fornecimento responsável de commodities produzidas no Brasil – em especial, gado e soja, os dois produtos que mais tomam o espaço antes ocupado pela floresta. Só que a ideia só ficou no papel. Recentemente, o CEO da Cargill, multinacional presente na produção de soja no Brasil e participante do CGF, admitiu que esse plano fracassou.
O que os indígenas estão fazendo na Europa?
- Nascida entre os Guajajara/Tentehar, no Maranhão, Sônia Guajajara é coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e foi a primeira mulher indígena candidata a vice-presidenta do Brasil, em 2018
- Feminista de Minas Gerais, Célia Xakriabá busca estimular o protagonismo das mulheres indígenas em espaços institucionais. Como professora, ela luta pela reestruturação do sistema educacional, no apoio a jovens e mulheres Xakriabás
- Ao lado de outros líderes, Angela Kaxuyana participa ativamente da luta pela retomada da Terra Indígena Katxuyana-Tunayana-Oriximiná, que fica entre os estados do Pará e Amazonas, em uma área de floresta Amazônica preservada
- Vinda de uma região da Floresta Amazônica na fronteira com Colômbia e Venezuela, Nara Baré (AM) é defensora da educação indígena e tornou-se a primeira mulher a assumir a Coordenação Geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)
- Nascido no Mato Grosso do Sul, Elizeu Guarani Kaiowá representa um dos povos indígenas que mais vêm sofrendo violência, porque habitam terras invadidas pelo agronegócio. De 2003 a 2013, 15 grandes lideranças foram assassinadas na região. Por lutar por seus direitos, Elizeu foi processado, ameaçado de morte, escapou de tiros em emboscadas e foi proibido de retornar à aldeia, onde deixou a família
- Kretã Kaingang é da Terra Indígena Mangueirinha, no interior do Paraná. Em abril de 2003, Kretã e o seu povo, Kaingang, ajudaram a criar o Acampamento Terra Livre, em Brasília, juntamente com os povos Guarani e Xoklêng. Hoje, o Acampamento é o maior fórum do movimento indígena brasileiro
- O professor Alberto Terena é pedagogo e especialista em gestão escolar. Atuou na Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena de 2004 a 2010. Hoje, ele integra o Conselho Terena, que defende direitos desse povo que vive no Mato Grosso do Sul
- De origem Tuxá, povo indígena que vive nos estados de Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, o baiano Dinaman Tuxá é advogado na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme)
No dia 17 de outubro, oito líderes indígenas das cinco regiões brasileiras embarcaram em uma jornada de 35 dias por 19 cidades europeias. O objetivo é denunciar a autoridades, empresas e sociedade europeia a violenta realidade vivida pelos indígenas – violência que intensificou após a posse de Bolsonaro.
Os integrantes da Jornada participam de reuniões, encontros, entrevistas e debates acadêmicos para sensibilizar pessoas e cobrar ações dos governos e empresas nacionais e estrangeiros para que cumpram acordos de preservação do meio ambiente.
Os oito líderes também expõem problemas nacionais que impactam diretamente a vida e o equilíbrio dos indígenas e dos nossos biomas, como desmatamento e uso de agrotóxicos para produção de soja e milho para o agronegócio, a grilagem de terra, os conflitos sociais e a exploração de trabalho escravo, em especial nas zonas rurais do país.
Realizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio de voluntários e organizações nacionais e internacionais, a Jornada Sangue Indígena termina no dia 20 de novembro. Saiba mais, acompanhe e ajude a divulgar: nenhumagotamais.org.
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