Milhares de anciãs, lideranças e jovens indígenas de 247 povos originários reunidas em Brasília na luta por seus direitos

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

A força das guerreiras ancestrais está dominando Brasília! Nesta semana, entre os dias 11 e 13 de setembro, acontece III Marcha das Mulheres Indígenas, que reúne oito mil participantes de 247 povos originários de todos os cantos do país e do mundo. 

Nesta terceira edição, o tema é ‘Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais’, chamando atenção para a conservação ambiental. “O nosso bioma está sendo destruído a todo tempo. E que a gente tá aqui pra dizer pro mundo que nós precisamos ser respeitadas, porque se a Amazônia for destruída, nós também vamos juntas”, alerta a liderança Watatakalu Yawalapiti. 

“Tenho orgulho de ser uma das primeiras do movimento de mulheres do território indígena do Xingu. Enfrentei muitas barreiras para que a minha filha e as minhas netas possam chegar um dia sem precisar passar por tudo que nós vivemos.

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

Organizada pela rede ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade), o principal intuito é potencializar as vozes das anciãs, jovens e lideranças mulheres que protegem seus territórios e suas culturas. Por isso, toda a programação foi criada para fortalecer a atuação das mulheres indígenas, debatendo os desafios e propondo diálogos de incidência política.

Para conquistar e demarcar mais espaços de poder, logo no primeiro dia 500 lideranças participaram da sessão solene ‘Reflorestando o Congresso’, impulsionada pela Bancada do Cocar, que é chefiada pela deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG). Vale destacar que, pela primeira vez em sua história, o Brasil possui uma Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; e uma indígena presidente da Funai, Joênia Wapichana. 

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

III Marcha das Mulheres Indígenas 

O evento é um grande chamado à humanidade para proporcionar uma nova forma de nos relacionar com a Mãe Terra e promover o bem-viver entre nós, seres que nela vivem. Por isso, o tema desta edição destacou as mulheres-biomas da Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal, Pampas e Cerrado.

“As mulheres indígenas e seus povos têm um papel fundamental no combate à emergência climática. A gente tem feito esse trabalho há milhares de anos, e ainda dá tempo de salvar o planeta se todos nós repartimos essa responsabilidade”, explica Puyr Tembé, membra da ANMIGA que ajudou a organizar este momento.

“Depois de dois anos preparando, chegar hoje e ver a quantidade de mulheres de todos os biomas que estão presentes, inclusive mulheres internacionais, é a certeza de que a gente está no caminho certo”.

Com seus cantos, rituais e vestimentas tradicionais, as guerreiras ancestrais abriram mais uma edição da Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, que ocorre de dois em dois anos. Mulheres de 18 povos indígenas de outros países — Malásia, África, Uganda, Estados Unidos, Peru, Quênia, Nova Zelândia, Bangladesh, Rússia, Indonésia, Guatemala e Finlândia —, também participaram.

Segundo a ANMIGA, no centro da marcha está um poderoso apelo por direitos iguais para as mulheres indígenas. São inúmeros os desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas elas se recusam a continuar sendo silenciadas. Exigem acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas, e lutam pela proteção da terra e de suas riquezas naturais, que vêm sendo explorados por muito tempo.

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

Futuro é ancestral

Para combater as emergências que o mundo enfrenta hoje, é necessário e urgente nos conectarmos com a Mãe Terra e com os saberes de quem dela cuida há milhares de anos. É essencial para a manutenção da vida e para o bem-viver de todos.

A fome, a violência, o desemprego, as desigualdades, o racismo, a LGBTFOBIA e o machismo colocam milhões de pessoas em situação de risco, e são sintomas de um modelo predatório falido, que empurra o mundo a um ponto de não-retorno. 

A Marcha das Mulheres Indígenas joga luz nos conhecimentos, na riqueza cultural e nas tecnologias ancestrais das mulheres indígenas, que são exemplos concretos de solução e de que é possível vivermos e convivermos de outra forma.

Precisamos de um modelo de reconstrução que se baseie no cuidado com a Terra e na troca de saberes ancestrais dos povos que há anos convivem com a natureza. Para isso, é crucial a articulação política das mulheres indígenas, a escuta ativa e o apoio de toda a sociedade.

III March of Indigenous Women, in Brasilia, Brazil. © Edgar Kanaykõ / Greenpeace
© Edgar Kanaykõ / Greenpeace

Marco Temporal Não

A uma semana do julgamento do século, as esperanças e as expectativas também estão presentes na Marcha das Mulheres Indígenas. Até o momento, o placar no Supremo Tribunal Federal (STF) está a favor dos povos indígenas: 4 x 2 contra o Marco Temporal. Ainda faltam cinco votos – a votação continuará em 20 de setembro.

Se aprovado, o Marco Temporal vai impossibilitar a demarcação de territórios originários, piorando a insegurança para os povos indígenas e a crise climática. As Terras Indígenas são essenciais para o equilíbrio ecológico e para o clima global, conservando mais de 100 milhões de hectares de florestas. O Marco Temporal coloca o mundo inteiro em risco e os povos indígenas estão na linha de frente defesa do planeta.

Nunca estivemos tão perto de derrubar essa tese anti-indígena de uma vez por todas! A sociedade precisa reconhecer e respeitar o direito à vida. Faça parte desse momento: apoie a luta das mulheres indígenas e diga Marco Temporal Não. 

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