Com 338 assinaturas, o documento também ressalta que os avisos e alertas da comunidade científica são antigos

Município de Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, após as grandes chuvas que acometeram o Estado, em maio de 2024. © Fernanda Ligabue / Greenpeace

O Greenpeace Brasil, junto com a comunidade científica brasileira, publicou uma carta cobrando ações permanentes do poder público de monitoramento, adaptação e enfrentamento à crise do clima nos estados e cidades.

O documento conta com 338 assinaturas de cientistas de diversas regiões e instituições do país, como universidades, centros de pesquisa, além de pesquisadores de órgãos como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Os eventos extremos estão cada vez mais frequentes nas cidades brasileiras, como mostram os recentes casos das chuvas no Rio Grande do Sul, os incêndios no Pantanal e a seca sem precedentes na Região Norte – e que deverá ser ainda mais severa em 2024.  A carta lembra, porém, que tal cenário de crise climática e perda humana não é novidade: nos últimos 30 anos, mais de 93% dos municípios brasileiros foram afetados por desastres relacionados ao clima, em diferentes escalas de magnitude e intensidade, resultando na morte de mais de 5 mil pessoas, 9 milhões de desabrigados/desalojados e 1 milhão de feridos/enfermos. 

O documento também ressalta que os avisos e alertas da comunidade científica são antigos: o primeiro relatório nacional sobre mudanças climáticas, organizado pela Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA), tem mais de dez anos. Assinado na época por 345 pesquisadores, o relatório apresentou projeções climáticas de eventos extremos para o Brasil nos anos seguintes, alertando para o aumento da temperatura média em todas as regiões do país. 

Entretanto,  na contramão dos alertas científicos, o que se observa  no Congresso Nacional é o avanço de projetos de lei que ameaçam o meio ambiente e o bem estar da vida humana, como o “Pacote da Destruição”, que flexibiliza medidas de preservação ambiental, e que retardam uma transição energética justa no país, como os planos da Petrobras de  explorar petróleo em regiões ambientalmente sensíveis, como a Foz do Amazonas

Em 2023, estados da Amazônia enfrentaram uma forte estiagem, que secou leitos de rios e lagos em diversos municípios, deixando populações isoladas e animais mortos. © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Para o porta-voz da frente de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, o geógrafo Rodrigo Jesus, a carta representa um posicionamento da comunidade científica sobre a necessidade permanente da atuação do poder público frente aos desafios complexos e estruturais da crise climática: 

“Atualmente, nem todas as capitais brasileiras  têm um plano de enfrentamento às mudanças climáticas. Para além das capitais, é preciso que todos os municípios do país tenham esse plano.  Os eventos extremos  têm ocorrido com  mais frequência e intensidade em todo o Brasil, impactando, principalmente, as populações em condição de vulnerabilidade social. Precisamos que os governos tenham ações permanentes para conter os efeitos da crise climática! Nesse sentido, essa carta é muito mais do que um posicionamento, é um chamado de urgência assinado por mais de 330 cientistas”, diz o porta-voz do Greenpeace Brasil.

Clique aqui para ler a carta na íntegra.

Entre outras demandas da comunidade científica, a carta destaca que:

  • No debate sobre gestão de riscos e desastres, o poder público costuma empenhar esforços somente na fase da emergência e na reconstrução, ao invés de buscar soluções que abordem as causas fundamentais, a partir da análise das vulnerabilidades;
  • O objetivo central da ação permanente do poder público no enfrentamento à crise climática deve ser a proteção de vidas, principalmente das populações negras, periféricas, pessoas em situação de rua, mulheres chefes de família, crianças, adolescentes, povos indígenas e comunidades tradicionais, que são as mais vulnerabilizadas pelos eventos climáticos extremos;
  • É necessário inserir enquanto prioridade às políticas públicas de prevenção e adaptação climática nas cidades com participação deliberativa das pessoas vulnerabilizadas;
  • É responsabilidade dos governos se atentarem à previsibilidade para tomada de decisão política, assim como, investir em atualização e inovação nos sistemas de alertas e monitoramento.

Quem assina a carta

A carta é uma construção coletiva com a colaboração direta de nomes como:  Prof. Dr. Pedro Henrique Campello Torres (IEE/USP); Prof. Dr Alexandre Araujo Costa (UECE); Profa. Dra. Natacha Cintia Regina Aleixo (UFAM); Profa. Dra. Erika Collischonn (UFPel); Luciana Gatti (INPE); Prof Dr. Paulo Zangalli Jr (UFBA); e Rodrigo Jesus (Greenpeace Brasil), assinada por 338 pesquisadores e cientistas, que podem ser consultados na íntegra no final da carta.

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