Que tal um resumo do que rolou na primeira semana da COP em Dubai?

Com uma semana de COP, seguimos sem clareza se os países vão eliminar todos os combustíveis fósseis até 2050 © Marie Jacquemin / Greenpeace

Começou a 2ª semana da Conferência da ONU, em Dubai, a COP28 (eis aqui uma breve análise da 1ª semana). 

E começamos pegando fogo (de calor e de novidades): primeiro, foi anunciado que a COP29 seria no Azerbaijão, no Leste Europeu, país vizinho do Irã, Rússia e Armênia (Sim, ainda teremos muito suor e petróleo até a COP30, em Belém), mas, na sequência, os colegas russos vetaram e seguimos sem casa para a COP de 2024. Depois, foi publicada uma nova versão do texto do Balanço Global do Acordo de Paris – o grande tema dessa COP – mas que tem ficado nos bastidores por causa dos combustíveis fósseis. (entenda o GST abaixo)

Falando em petróleo, aqui tem uma análise do custo político para a COP30 do anúncio (incoerente e perigoso) do presidente Lula de ingressar para a Opep+.

O fato é que as negociações da COP28 estão se aproximando do final, e isso aumenta a nossa tensão sobre o futuro dos combustíveis fósseis (e o nosso próprio futuro): AINDA seguimos sem clareza se os países concordarão em eliminar TODOS os combustíveis fósseis ATÉ 2050.

É nesse clima quente e veloz de “correndo contra o tempo” que os países deverão nesta última semana de COP28:

  1. Definir o Fundo de Perdas e Danos: precisamos decidir as regras para colocar o Fundo para jogo, já! (veja mais abaixo)
  2. Colocar mais dinheiro na mesa: espera-se que os países desenvolvidos façam mais (muitoooo mais) doações ao Fundo de Perdas e Danos, para que cresça a quantia (ínfima, digamos, diante das perdas e dos danos que os países em desenvolvimento já sofreram e ainda sofrerão) doada até agora. Afinal, UM FUNDO SEM DINHEIRO NÃO SERVE PRA NADA!
  3. Financiamento climático: países desenvolvidos precisam fazer compromissos concretos – mais uma vez, colocar mais dinheiro na mesa – para financiar a Adaptação dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Tal negociação está travada e o que vimos até o momento é aquela velha estratégia “TÁ BOM, NA VOLTA EU COMPRO”
  4. Avançar na discussão sobre a transição energética: ela precisa ser rápida, justa e com dinheiro para acontecer, para que não aumente o abismo social entre o Sul e o Norte global.
  5. Chegar a um acordo final (oremos!) sobre o texto do Balanço Global do Acordo de Paris: os países precisam avaliar onde estamos e para onde vamos com relação aos compromissos assumidos no Acordo de Paris. (veja mais abaixo)

Balanço Global do Acordo de Paris

Foi apresentada nesta sexta-feira (8) uma terceira proposta de texto para o Balanço Global do Acordo de Paris como resultado das negociações e sugestões anteriores. 

Camila Jardim, especialista de Políticas Internacionais do Greenpeace Brasil, comenta direto de Dubai:

“No quesito transição energética, o texto do Balanço Global tem pontos positivos, pois apresenta opções de linguagem para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. No entanto, não há diferenciação entre os prazos esperados para países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que pode ser prejudicial para os últimos. Além disso, o texto tem referências perigosas a “combustíveis de transição”, que poderia justificar o aumento do uso de gás natural, um combustível fóssil, sob o argumento de que este seria uma opção que polui menos que os demais combustíveis fósseis”. 

O Greenpeace Brasil vê como preocupante a presença no texto de termos como “atenuação de emissões” (“unabated”, em inglês), ou a centralidade de medidas de geoengenharia, como captura e armazenamento de carbono. 

“Além de muitos lobistas do petróleo, sabemos que essa COP também está cheia de lobistas de indústrias de geoengenharia, que minimizam a centralidade de se eliminar os combustíveis fósseis e sugerem, ao contrário, que o desenvolvimento de tecnologia para atenuar as emissões dos fósseis pode ser suficiente para manter essas indústrias funcionando como se a crise climática não existisse. Essas são falsas soluções e que não são capazes de sanar o problema.

O acordo final do GST precisa de uma linguagem precisa e incisiva na urgência da eliminação de todos os combustíveis fósseis até 2050, financiada e liderada pelos países desenvolvidos, os quais devem estar livres desses combustíveis já em 2040. Além disso, é preciso que já observemos uma redução significativa na produção e queima dos fósseis (em pelo menos 40%) já em 2030 e que falsas soluções não sejam difundidas como alternativas para a crise climática”, diz Camila Jardim. 

As negociações sobre o tema serão retomadas ainda na noite desta sexta-feira e estaremos presentes pressionando por mudanças reais e estruturais que sejam capazes de responder à crise que enfrentamos. 

Fundo de Perdas e Danos

Anunciado na COP27 (depois de mais de 20 anos de luta da sociedade civil!), o fundo foi lançado, de fato, no primeiro dia da COP28. 

Celebramos a notícia de criação do Fundo de Perdas e Danos, mas continuamos atentos, pois o mecanismo ainda não entrou em vigor e, até o último dia de COP28, os países deverão definir, entre outros pontos:

  • Quem vai colocar dinheiro no fundo? quem vai receber? 
  • Quais serão as formas de acesso ao Fundo? 
  • Quais serão as métricas para monitorar o progresso na resposta às perdas e danos associados às alterações climáticas? 
  • O Fundo garantirá apoio técnico e capacitação suficientes para que os países possam estabelecer inventários de perdas e danos?

Leandro Ramos, diretor de Programas do Greenpeace Brasil, afirma:

“Por muito tempo, os países e populações que menos contribuíram para a crise climática têm sido os mais impactados, principalmente em 2023, ano em que as mudanças do clima mostraram a sua pior face. O Fundo de Perdas e Danos é um primeiro passo para garantir que essas comunidades recebam o apoio de que precisam, mas, para isso, precisamos que o mecanismo tenha dinheiro suficiente para arcar com todos os danos já causados e que ainda ocorrerão.”

Ghiwa Nakat, diretora executiva do Greenpeace no Oriente Médio e Norte da África, afirma: 

“Os países ricos e desenvolvidos devem aumentar as suas contribuições para o novo Fundo de Perdas e Danos, e as indústrias poluentes também devem ser obrigadas a pagar a conta da crise climática. Por outro lado, se a presidência da COP casar o anúncio do Fundo logo nos primeiros dias de Conferência com um acordo global sobre uma eliminação progressiva justa dos combustíveis fósseis, a COP28 será um evento histórico.”

⭐ Entenda neste vídeo por que o mundo precisa do Fundo de Perdas e Danos para evitar que as mudanças climáticas continuem aprofundando as desigualdades sociais entre Sul e Norte Global.

Financiamento e adaptação

Segundo o Relatório de Adaptação Climática de 2023, o financiamento dado pelos países desenvolvidos (sim, os poluidores históricos)  para adaptação deveria aumentar entre 10 e 18 vezes para atender o mínimo das necessidades de redução de riscos dos países e pessoas mais vulneráveis às mudanças climáticas. 

No entanto, o fluxo financeiro internacional de financiamento público para adaptação sofreu uma queda de 66% no desembolso de recursos nos últimos 5 anos, não passando de US$ 21 bilhões em 2021, frente a um custo mínimo projetado em US$ 215 bilhões ao ano.

Camila Jardim, especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil, afirma:

“É preocupante que, a essa altura da COP28, os países ainda não tenham feito compromissos concretos sobre financiamento para que países em desenvolvimento possam se adaptar às mudanças climáticas. Precisamos que os países desenvolvidos se mostrem mais dispostos a discutir uma transição justa, negociação que até agora não apresentou avanços. Os países em desenvolvimento precisam de financiamento, transferência de tecnologia e diversas outras formas de apoio para o seu processo de transição energética e para que o direito ao desenvolvimento e o acesso a energias renováveis – para muitas populações que ainda não têm acesso a nenhum tipo de energia – sejam garantidos”.

COP do petróleo? NÃO!

A COP28 começou em meio à controvérsia sobre os planos de expansão de petróleo e gás dos Emirados Árabes Unidos. A Adnoc, empresa petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos, obteve lucros líquidos de $802 milhões de dólares em 2022 – 33% a mais em relação a 2021. O sultão Ahmed Al-Jaber é presidente da COP28 e da Adnoc. E veja bem, o lucro somente de uma empresa de petróleo no ano passado é quase que o dobro do valor doado pelo Fundo de Perdas e Danos até o momento (cerca de $500 milhões). 

Por falar no presidente da COP28, mais de 130 políticos dos EUA e da União Europeia escreveram à ONU pedindo a sua destituição, mas Al-Jaber continua desfilando pelos corredores infinitos da Conferência (sim, eles são enormes) e abraçando líderes de estados, inclusive o presidente Lula (a foto abaixo é referente ao Fundo Florestas Tropicais, anunciado pelo governo brasileiro na primeira semana de COP, mas também poderia ser uma ‘celebração’ entre os estadistas após Lula reforçar suas intenções de ampliar investimentos em petróleo).

O Brasil quer ser uma liderança climática, mas insiste na exploração de combustíveis fósseis © Reprodução/ cop28uaeofficial

Camila Jardim, especialista em Políticas Internacionais do Greenpeace Brasil, afirma:

“Esperamos que o texto final do Balanço Global sobre o Acordo de Paris inclua um compromisso global em eliminar justa, financiada e progressivamente os combustíveis fósseis, com resultados significativos de redução já em 2030, com os países desenvolvidos eliminando 100% até 2040 e os em desenvolvimento até 2050”. 

Manifestação pacífica do Greenpeace na COP28, pedindo um cessar fogo imediato no conflito na Faixa de Gaza © Marie Jacquemin / Greenpeace

Viu o nosso dicionário climático? 

Sim, temos um (por enquanto minidicionário, mas que vai comer arroz e feijão e vai crescer muito até a COP30!) dicionário climático!!! Um dos conceitos que já está no nosso dicionário é o de Perdas e Danos.

Confira aqui.

E o nosso quadro “café da manhã na COP28”?

A COP28 é dividida em zonas e pavilhões. Estes últimos abrigam locais que representam cada país e cada grupo da sociedade civil organizada presente na conferência. Há o Pavilhão das mulheres; Pavilhão das Florestas; Pavilhão dos Povos Indígenas etc. 

Todos os dias de manhã, tomamos café em algum desses pavilhões e postamos nos stories do Greenpeace Brasil, explicando algum fato ambiental relevante sobre aquele local. Já tomamos cafezin (ou cházin) com Madagascar, Arábia Saudita, Colômbia, Brasil e Emirados Árabes Unidos. 

Para fotos e vídeos do Greenpeace na COP28, acesse nossa midiateca. Ela é aberta para uso a todos, basta dar os créditos marotos. 

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