A fumaça das queimadas na Amazônia pode viajar pela atmosfera e prejudicar a saúde até de quem vive longe da floresta. Conheça alguns fatos sobre a fumaça e o fogo que assola o Brasil

*Atualizado em 13/09/24
Em 2024 o Brasil enfrenta uma onda de queimadas ilegais sem precedentes. O fogo e a fumaça chegaram a quase todas as regiões e no início de setembro o país chegou a ter 60% de seu território coberto pela fumaça.
Mas quem causa esse fogo? De onde vem tanta fumaça? E como isso nos afeta?
Separamos seis fatos que vão ajudar você a entender como o fogo e a fumaça das queimadas e incêndios florestais prejudicam nossa saúde e nosso futuro.
- Fumaça tóxica
A fumaça das queimadas está repleta de partículas minúsculas (sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, fuligem, pós minerais e água) com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro (PM 2.5).
Esses resíduos, chamados de material particulado (PM – particulate matter), podem se acumular nos pontos mais terminais do nosso sistema respiratório, os alvéolos, onde ocorre a hematose, que é a troca de gás carbônico por oxigênio e, a partir dali, esse material entra na corrente sanguínea, causando complicações de saúde imediatas e de longo prazo.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a exposição à poluição causa 7 milhões de mortes prematuras todos os anos no mundo e reduz a expectativa de vida da população. Em 2021, a organização revisou as diretrizes globais para a qualidade do ar e determinou que a média diária de material particulado no ar não pode passar de 25 μg/m³. Mas no período do ano em que ocorrem as queimadas criminosas na Amazônia, de julho a outubro, essa concentração pode ser duas vezes maior que o limite de segurança e persistir por tempo prolongado.
- Como a fumaça afeta a saúde?
Entre os sintomas mais comuns causados pela interação com o material particulado da fumaça estão ardência na garganta e narinas, dor ao respirar, dor de cabeça e tosse persistente. Os efeitos podem ser ainda mais devastadores para pacientes que já contam com alguma comorbidade, como hipertensão, asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica, levando até internação.
Os mais acometidos pela poluição causada pelas queimadas na Amazônia são os idosos e as crianças. “As crianças, por terem o sistema imunológico ainda em desenvolvimento e por apresentarem um aparelho respiratório anatomicamente menor”, explica o médico pediatra Daniel Pires de Carvalho, diretor geral adjunto do Hospital Infantil Cosme e Damião, de Porto Velho (RO).
Mas o material particulado pode continuar agindo por muitos anos no corpo humano. A exposição crônica a essas partículas pode favorecer o surgimento de tipos de câncer, como o câncer de pulmão, doenças hematológicas, hipertensão e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).
Acesse este link e saiba como se proteger!
- Veneno à domicílio
Você já ouviu falar dos rios voadores? São enormes nuvens carregadas de água que se formam sobre a Amazônia, e viajam pela atmosfera, levando umidade para todo o centro-oeste, sul e sudeste do País. Pois da mesma maneira que esse sistema de ventos pode carregar água acima das nossas cabeças, ele também transporta a fumaça, que pode viajar por muitos quilômetros, afetando a saúde de quem mora perto e de quem mora longe da floresta.
Um estudo mostrou que Manaus, capital do Amazonas, por exemplo, foi um dos municípios que ficaram mais tempo expostos à má qualidade do ar nos últimos anos, com de 75% a 100% dos dias no período de agosto a outubro entre 2010 e 2019 com qualidade do ar ruim. A maior concentração de focos de calor, no entanto, ficam distantes da capital.
Mas como podemos ver, a fumaça não fica restrita às metrópoles amazônicas e tem chegado cada vez mais longe. Em 2024 já foi tanto fogo, que a fumaça chegou a cobrir 60% do território brasileiro, deixando o céu escuro e o sol vermelho de Norte a Sul do país. Se até as roupas no varal ficaram cheias de fuligem e a água da chuva ficou preta, imagina o nosso pulmão?
- Queimando recursos da saúde
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o impacto das queimadas para a saúde infantil em aproximadamente 100 municípios da Amazônia Legal, publicado em 2019, mostrou que o número de internações de crianças devido a problemas relacionados à exposição a fumaça dobra na região amazônica durante o período em que ocorrem as queimadas criminosas, o que acarretou num custo extra de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com a pesquisa, viver em uma cidade próxima aos focos de incêndio aumenta em 36% o risco de se internar por problemas respiratórios.
“Aumenta a demanda nas unidades de saúde, aumentam os custos de saúde, por conta dos procedimentos que você tem que dar para a pessoa, e essa questão econômica afeta as famílias também, é medicamento que tem que comprar, deslocamento que tem que fazer”, explica Arlete Baldez, médica epidemiologista da Agência Estadual de Vigilância e Saúde estado de Rondônia (Agevisa).
- É ruim para o clima, é ruim para a gente
O desmatamento e as queimadas correspondem por 48% das emissões de gases do efeito estufa do Brasil, mais do que as emissões de todos os carros, aviões e fábricas do pais juntas! O que acontece é que as árvores da floresta guardam um monte de carbono em sua biomassa (seu tronco e folhas). Mas quando essa floresta é derrubada e queimada, todo esse carbono volta para a atmosfera.
Assim, a floresta, que é uma grande aliada na luta contra a crise climática, por sua capacidade de guardar carbono, acaba se transformando em uma gigantesca fonte de emissões. E quanto mais emissões destes gases, pior nossa situação.
Há algum tempo as mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão de cientistas e passaram a fazer parte do nosso cotidiano. O planeta vem registrando temperaturas recorde e eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, com intensidade e frequência nunca antes vistos, fazendo milhares de vítimas, inclusive aqui no Brasil. Para piorar, a maior parte das nações ainda não estão preparadas para lidar com isso, o que torna a tragédia ainda maior.
- De onde vem tanta fumaça?
Em geral, o fogo é causado pela ação humana, seja para o desmatamento, para a renovação de pastos ou outros processos da agropecuária, e toda queimada provocada sem autorização é ilegal. O número de queimadas costuma ser maior de julho a outubro, quando diminui o volume de chuvas. Mas em 2024, a ocorrência de fogo disparou em diversos biomas, e bem antes do que era esperado.
De 1 de janeiro a 31 de agosto de 2024, foram registrados 63.189 focos de incêndios na Amazônia, um aumento de 100,67% em relação ao número registrado no mesmo período do ano passado. No Cerrado, esse número ja superou em 63,3% o número focos do mesmo intervalo de 2023, segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Já no Pantanal, maior planície interior úmida do planeta, o número de focos de calor chegou a 9.167 nesse período, quantidade 2.174% maior que a registrada nos mesmos 8 meses do ano passado, de acordo com o Inpe.

E como acabar com esse problema? Bem, acabar com o desmatamento é um caminho, mas uma missão que depende da ação de todos os atores envolvidos.
Nesse cenário angustiante, a impunidade é a gasolina que alimenta a destruição e cabe às autoridades uma resposta rápida: investigação e responsabilização dos incêndios criminosos e forte atuação na prevenção e estratégias de adaptação à realidade de eventos extremos. Mas isso não basta.
Os governos precisam aumentar a capacidade operacional para prevenção e combate aos incêndios e desenvolver planos de ação de curto, médio e longo prazo para adaptação às mudanças climáticas.
Todos, incluindo governos, legisladores e o setor agropecuário, precisam atingir o Desmatamento Zero ainda antes de 2030, já que esta é a maior contribuição que o Brasil pode dar para ajudar a mitigar os efeitos da crise climática que vivemos. E o sistema financeiro deve, de uma vez por todas, parar de financiar quem destrói a natureza. Quer ajudar?
Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!