A Amazônia vale mais em pé do que desmatada. Mas o país ainda investe muito no agronegócio e pouco em uma economia da sociobiodiversidade. É hora de inverter essa lógica

Beneficiamento do Murumuru, que tem aplicações cosméticas e medicinais ,na Associação dos Agricultores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (ASPACS), em Lábrea, Amazonas. (© Nilmar Lage / Greenpeace)

Desde a década de 70 o Brasil vem reproduzindo na Amazônia o modelo de desenvolvimento agrícola usado em outras regiões, baseado na retirada da vegetação nativa, para uso da terra na produção de monoculturas e de pecuária extensiva. Hoje, diferente do que se pensava há 50 anos, sabemos que este modelo é extremamente prejudicial para a floresta, sua biodiversidade e para o mundo todo. 

Atualmente, esse processo, chamado de “mudança do uso da terra”, é responsável por 44% das emissões de gases do efeito estufa do Brasil. Sem contar os impactos irreversíveis na biodiversidade e para as próprias populações amazônidas, já que este modelo de produção traz lucro para poucos a curto prazo, enquanto promove a concentração de terras, o esgotamento dos recursos naturais, violência no campo e o constante êxodo de trabalhadores rurais, que não conseguem mais se fixar em um local. 

Mas e aí, existe uma alternativa para isso? Sim! Na verdade, o maior potencial da Amazônia está na floresta em pé e nas formas de produção que convivem com a floresta, aproveitando todo o seu potencial, como o extrativismo, os sistemas agroflorestais e a economia da sociobiodiversidade, que além de gerar renda preservam a floresta e os serviços ambientais que ela nos oferece. Durante a expedição que fizemos na Amazônia em setembro, pudemos ver de perto algumas dessas alternativas, o sistema agroflorestal da aldeia Paxiúba, do Raimundo Apurinã, e as associações que processam e comercializam os óleos e frutos da floresta. 

Conhecemos também o trabalho da Operação Amazônia Nativa (OPAN), que atua no fomento às cadeias produtivas da sociobiodiversidade e seus desafios. Essas cadeias envolvem produtos originados da biodiversidade amazônica. Não é simples, nem fácil – especialmente quando a maior parte dos investimentos públicos estão no agronegócio – mas é possível, e essa organização tem realizado um trabalho incrível com comunidades indígenas envolvidas no manejo do pirarucu, castanha e outros produtos da sociobiodiversidade. 

Apesar de ter sido inevitável falar com povos indígenas sobre as ameaças legislativas e as consequências do enfraquecimento da Funai para os povos, ainda na parte de inspiração, também conversamos com representantes do povo Tenharim, que nos contaram sobre a construção de um protocolo de consulta para empreendimentos está sendo desenhado pelo povo, de maneira a seguir os procedimentos da convenção 169 da OIT. 

Quanto ao fogo, eles possuem uma brigada de incêndio, junto com outros povos que vivem na região e com apoio de organizações parceiras e treinamento do Ibama/Prevfogo. Tentamos falar com os brigadistas, mas encontramos dois desafios: eles estavam em campo e longe de Humaitá, além disso, existe uma restrição imposta pelo governo, na qual brigadistas ligados ao Ibama, e servidores públicos no geral, não podem se manifestar sem autorização dos superiores. 

Mas tudo bem, vida que segue. Não é de hoje que o atual governo tenta amordaçar funcionários públicos  e a sociedade civil organizada e não é de hoje que o Greenpeace encontra outras formas de contar essas histórias. 

Se tem algo que nos move a continuar denunciando e publicando essas histórias, é saber que pessoas como você receberão esta mensagem e estarão lado a lado conosco na luta para mudar esse sistema. Uma nova forma de produzir e gerar renda na Amazônia é possível e mais necessária do que nunca. A mudança é urgente. 

Quer saber mais sobre isso, confira a reportagem especial sobre o tema.

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