O número de focos de calor registrados no bioma no último mês chegou 22.061, é o maior número dos últimos 15 anos para o mês de outubro, segundo dados do Inpe

Queimada em desmatamento recente na Gleba Abelhas, uma floresta pública não destinada federal localizada no município de Canutama, Amazonas, registrado em agosto de 2023. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Dados apresentados nesta quarta-feira (1) pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que outubro teve o maior número de focos de calor na Amazônia para o mês desde 2008. As informações do INPE mostram 22.061 focos de calor no bioma, em meio a um cenário de seca histórica na região que vem afetando milhares de pessoas. 

O Pará (41,5%), o Maranhão (15,6%) e Amazonas (14,1%) registraram o maior número de focos de calor nos estados da Amazônia Legal. “O número surpreendente de focos na Amazônia tem como facilitador a seca severa que se instalou na região. No entanto, muitas áreas queimam como parte do processo de desmatamento e na reforma de lavouras e pastagens. Nos últimos anos, grandes porções de floresta foram desmatadas e não queimadas, o prolongamento e intensificação do período seco é propício para concretizar tais atividades” explica Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace Brasil.

Focos de calor são pontos geográficos captados por satélites de monitoramento – esses pontos apresentam temperatura acima de 47ºC e área mínima de 900 m², ou seja, são fortes indicadores de incêndios ou queimadas.

O estado do Pará registrou o segundo pior mês de outubro da série histórica, perdendo apenas para outubro de 2008. Já os estados do Amazonas e Acre bateram recorde: registraram o maior número de focos para outubro de toda a série, iniciada em 1998. Vale também mencionar que a cidade de Manaus está encoberta há dias pela fumaça das queimadas e incêndios.

Entre os municípios que concentraram o maior número de focos de calor estão Portel (PA), com 859 focos, e Lábrea (AM), com 515 focos. Sete, dos 10 municípios com mais focos, estão no Pará. 

Cerrado: na mira do Agro que desmata

Considerando todos os estados e biomas do Brasil, o Piauí ficou em 3º lugar entre os que mais queimaram em outubro de 2023. O estado abriga áreas de Caatinga e de Cerrado, e faz parte da área de interesse econômico da agroindústria denominada de MATOPIBA (acrônimo de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). 

Em 2023, de janeiro a outubro, o Cerrado registrou uma área de 6.613 km2 com alertas de desmatamento (até dia 20/10), um aumento de 30,3% na comparação com o mesmo período do ano passado (considerando outubro fechado), e 45.232 focos de calor. Só em outubro, foram 8.371 focos. No Piauí, foram registrados 3982 focos de calor, ou 10% de todos os focos registrados no País. 

“No Cerrado a situação é preocupante. O bioma já perdeu metade da sua formação original, é uma fronteira ativa de expansão do agronegócio e a legislação é muito mais permissiva para o desmatamento, em comparação com a Amazônia, e não há iniciativas privadas e setoriais que levem ao fim de seu desmatamento. Estamos caminhando para extinguir um ecossistema de extrema relevância climática e para a biodiversidade”, alerta Mazzetti.

A região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecida como MATOPIBA, é considerada a vitrine do agronegócio brasileiro. Não por um acaso, é onde o desmatamento avança mais violentamente no bioma. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Prolongamento da estiagem favorece as queimadas na Amazônia

Este ano, o verão amazônico, quando o clima mais seco favorece a ação de criminosos para o desmatamento e as queimadas, foi potencializado pelo fenômeno climático El Niño, causado pelo aumento das temperaturas do oceano Pacífico, e por um clima ainda mais quente que o normal. Isso aumentou o período com condições propícias para as queimadas criminosas no bioma, alimentando um ciclo destrutivo que ameaça a integridade das florestas, de seus povos e de toda a vida no planeta. 

É importante ressaltar que o desmatamento é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa (GEE) no Brasil. Relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) aponta a categoria “mudança do uso da terra” como responsável por 49% das emissões do país para o ano de 2021. E a piora das mudanças climáticas significa aumento de intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como secas severas, inundações e deslizamentos, episódios que têm sido cada vez mais recorrentes em todo o mundo. 

O cenário combinado de incêndios, seca e fumaça na Amazônia evidencia a crise tripla que vivemos com o agravamento da urgência climática, perda de biodiversidade e também a poluição do ar, com impactos na saúde das pessoas. 

“Esse cenário já era previsto, e mais ações poderiam ter sido direcionadas para prevenção, adaptação e resposta. O mês de outubro é um novo lembrete para que governos ajam rapidamente e com mais ambição, seja em ações emergenciais, ações para prevenção e controle dos incêndios e desmatamento e nas políticas de adaptação às mudanças climáticas.”, finaliza Mazzetti.  

A humanidade já ultrapassou quatro, dos nove limites planetários que viabilizam a vida na Terra. Um desses limites, já parcialmente excedido, é o da integridade da biosfera, que diz respeito à diversidade genética que é importante na adaptação do planeta à mudanças abruptas. E uma vez superados esses limites, isso pode levar a mudanças irreversíveis para todos. É preciso agir agora para frear esse processo.

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