As cidades precisam de lideranças comprometidas com a pauta climática, uma crise que agrava desigualdades estruturais e históricas

Atividade realizada no Morro dos Macacos, zona sul da cidade de São Paulo (SP), para o Dia Mundial da Habitação, que acontece na primeira segunda-feira de outubro. © Diego Baravelli / Greenpeace

Hoje começa a propaganda eleitoral para as eleições municipais de 2024, um momento decisivo para determinar o rumo das cidades que em todo o Brasil têm sofrido as consequências da crise climática e da falta de políticas públicas que se antecipem aos impactos. 

No Norte do país, nos estados do Acre, Amazonas, Pará e Rondônia, a população vem sofrendo nas últimas semanas com as imensas nuvens de fumaça que cobrem as cidades e prejudicam gravemente a qualidade do ar, dificultando a respiração e colocando a saúde em risco. 

De acordo com a plataforma que mede o Índice de Qualidade do Ar (AQI) em tempo real da Fundação IQAir, a cidade de Manaus chegou a registrar esta semana qualidade insalubre do ar para pessoas sensíveis, com alerta laranja para impactos como desconforto respiratório para crianças e idosos, e pessoas acometidas por doenças pulmonares e cardíacas. Nesta quinta-feira, 15 de agosto, a qualidade do ar em Porto Velho atingiu o maior nível de alerta da plataforma, classificado como perigoso, com uma série de indicações como “use máscara quando sair de casa”, “feche as janelas para evitar o ar sujo que vem de fora”, entre outras.

No Centro Oeste, o Pantanal também arde em chamas. Com Amazônia e Pantanal sendo devastados por incêndios, o ano de 2024 já é o que acumula a maior quantidade de emissões de gases estufa derivadas de incêndios florestais no Brasil desde 2005, segundo o observatório climático europeu Copernicus.

Enquanto isso, no Sudeste, uma onda de frio fez os termômetros despencarem em São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, com temperaturas que chegaram à mínima de 6°C. 

A capital paulistana, o município com o maior orçamento no Brasil, tem cerca de 80 mil pessoas vivendo nas ruas, segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). São dezenas de milhares de vidas enfrentando condições de extrema precariedade e sem acesso à proteção necessária para sobreviver com dignidade e segurança às madrugadas frias. Apesar de toda essa riqueza, as políticas de enfrentamento das consequências dos eventos extremos que colocam as populações mais vulnerabilizadas no centro continuam insuficientes.

Frente a este momento tão fundamental para o exercício da cidadania, quando as pessoas podem escolher quem as melhor representa e quem considera suas vozes como parte importante das decisões sobre os rumos do município, será que estão de olho se o enfrentamento à emergência climática e as políticas de atenção às pessoas mais impactadas estão na pauta dos candidatos ou das candidatas? 

As consequências da crise climática perpassam e agravam todas as vulnerabilidades que já estão presentes nas cidades, impactando da alimentação ao emprego, da saúde à educação, da moradia à segurança. Não tem como desconectar uma coisa da outra.

“É de extrema importância que a população vote em candidatos comprometidos em sanar problemas históricos e estruturais das cidades, reduzindo a pobreza, a desigualdade e possibilitando uma melhor qualidade de vida para a população, como assegurado na Constituição Federal. E, no cenário que estamos hoje, é preciso também eleger candidatos que se comprometam com ações, medidas e políticas públicas de prevenção e adaptação às mudanças climáticas e resposta aos eventos extremos, como forma de assegurar o direito à vida e ao bem-viver das pessoas”, defende Igor Travassos, coordenador da frente de Justiça Climática do Greenpeace Brasil.

As cidades pertencem às pessoas porque são construídas, moldadas e transformadas por elas. As cidades ganham vida quando as pessoas têm sua experiência e seu potencial coletivo para resistir, sonhar e transformar colocados no centro da formulação e implementação de políticas públicas. 

É preciso confrontar a realidade atual e mudá-la, e o voto em candidatos que têm em seu plano de governo a valorização da participação popular, especialmente das populações mais vulnerabilizadas, é um dos caminhos para essa mudança. Prefeitos e vereadores têm a responsabilidade de desenvolver políticas públicas que reduzam os efeitos das mudanças climáticas, enfrentem as desigualdades que são acentuadas pelo aumento da intensidade e frequência dos eventos extremos e promovam a adaptação necessária para proteger a vida e o bem-estar da população. 

Nós somos e fazemos a cidade. Queremos que ela seja justa, igualitária, verde e segura para todas as pessoas!

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