Como disse a ministra do Meio Ambiente no Fórum Econômico Mundial, “o mundo vive uma contradição”. É urgente que empresas de petróleo tenham planos para o fim da era do combustíveis fósseis. 

Marina Silva defende em Davos, no Fórum Econômico Mundial, a transformação de empresas petroleiras em empresas de energia.
Crédito: Divulgação/Fórum Econômico Mundial

Com vista para os Alpes Suíços, líderes de Estado, CEOs de multinacionais, acadêmicos e jornalistas estão reunidos esta semana no Fórum Econômico Mundial de 2024, em Davos, para discutir, entre outras coisas, a crise do clima e a transição energética global.

Como era de se esperar, o Brasil e a Amazônia estão no centro dos debates. 

A ministra do meio ambiente, Marina Silva, está em Davos para representar o Brasil – o presidente Lula não irá ao Fórum este ano. Questionada em um debate na terça-feira (16) sobre a ameaça de exploração de petróleo na Amazônia, Marina defendeu, sem rodeios, a urgência de petroleiras se transformarem em empresas de energia.

“O mundo vive em uma contradição, a de ter que enfrentar a mudança climática e [enfrentar] uma matriz energética que é fóssil predominantemente, em que se continua fazendo investimentos na ordem de US$7 trilhões para energia fóssil, e não se consegue os US$100 bilhões para fazer a transformação ecológica do planeta”, começou Marina.

“O que eu tenho defendido é que as empresas de petróleo devem se transformar o mais rápido possível em empresas de produção de energia”, concluiu a ministra.

A fala da representante da pasta ambiental se deu cerca de um mês após o governo brasileiro ofertar mais 600 novos blocos de exploração de petróleo, evento apelidado de “Leilão do Fim do Mundo” (veja a ação pacífica que o Greenpeace Brasil realizou na ocasião). Muitos desses blocos estão em áreas extremamente sensíveis do ponto de vista socioambiental, como regiões próximas ao arquipélago de Fernando de Noronha, Atol das Rocas e na Bacia do Amazonas (entenda a questão abaixo). 

A especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim, elogia a fala de Marina Silva feita em Davos. 

“A Ministra Marina Silva aponta a direção certa – transformar petroleiras ao redor do mundo, como a Petrobras, em empresas de energia com base em fontes renováveis. Não temos mais tempo para seguir ampliando fronteiras de petróleo. Mas para mudar o curso da matriz energética global, é preciso tomar decisões em alto nível político”, diz Camila Jardim.

Do ponto de vista político, Jardim analisa que a fala da ministra levanta as disputas políticas que a sociedade terá que travar, doméstica e internacionalmente, para acabar com a era dos combustíveis fósseis.

“É importante que Marina Silva tenha chamando atenção para a contradição que o mundo vive, de seguir ampliando os investimentos em combustíveis fósseis em plena crise climática. É urgente que as empresas de petróleo ao redor do mundo elaborem um planejamento para se tornarem empresas de energia renovável. E dizer isso no Fórum Econômico Mundial é um acerto, pois o evento é um importante espaço de diálogo entre setores econômicos públicos e privados com o poder de influenciar no desenho das estratégias de grandes empresas nos próximos anos”, diz Jardim.

Em agosto do ano passado, o podcast do Greenpeace Brasil entrevistou a ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, sobre a ameação de exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Na ocasião, Araújo também defendeu que Petrobras precisa deixar de ser uma “mega petroleira para se transformar em uma empresa de energia”. Escute o episódio aqui.


O Greenpeace está acompanhando o Fórum Econômico Mundial, pressionando os países e governos a adotarem um sistema econômico alternativo, que mude o foco do crescimento econômico para o bem-estar das pessoas e dos ecossistemas dos quais fazemos parte. Sem um meio ambiente saudável e equilibrado, não haverá justiça social.

Petróleo: a contradição do governo Lula

Ação pacífica do Greenpeace Brasil em 13 de dezembro, no Rio de Janeiro, contra o leilão da ANP contou com a presença da ativista e influenciadora Laila Zaid, lideranças indígenas e representantes de outras organizações da sociedade civil. Crédito: © Lucas Landau / Greenpeace

Em 13 de dezembro, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíve (ANP) ofertou mais de 600 blocos para exploração de petróleo. Foi o maior leilão de blocos de petróleo do Brasil.

“Além de uma bomba de carbono, a ANP disponibilizou para o setor petrolífero patrimônios naturais, culturais e, o mais grave, territórios vitais para populações indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, que sequer tiveram o direito à consulta livre, prévia e informada respeitado”, afirmou na ocasião o coordenador da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Marcelo Laterman.

O leilão incluiu 21 blocos na Bacia do Amazonas, coração da Amazônia. Mais da metade deles (12 blocos) está localizada em áreas de impacto direto de pelo menos 20 terras indígenas e zonas de amortecimento.

Um caso emblemático é o do bloco AM-T-132, que apresenta um enclave com quatro terras indígenas praticamente cercadas pelo bloco. São elas as TIs: Trincheira, São Pedro, Padre e Miguel/Josefa, respectivamente a 363 metros, 617 metros, 1.737 metros e apenas 72 metros de distância do bloco. 

Amazônia livre de petróleo!

Para que o Brasil chegue à COP 30, em Belém, como protagonista e não no papel de vilão,  é fundamental que o governo declare a Amazônia como uma zona livre de petróleo. Faça parte do abaixo-assinado do Greenpeace Brasil e nos ajude a pressionar!

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