Presidente discursou para líderes globais e cobrou ações contra a crise climática, mas ainda não se opõe a novos projetos de exploração em áreas sensíveis no Brasil

Presidente cobrou metas mais ambiciosas dos países mais desenvolvidos © Stuart Wilson/COP28

“É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante discurso da abertura da COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

De forma enfática, Lula cobrou os países mais desenvolvidos por NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas) mais ambiciosas, para que compromissos climáticos sejam de fato cumpridos. O mandatário também criticou a morosidade do financiamento climático.

“É inaceitável que a promessa de US$ 100 bilhões por ano assumida pelos países desenvolvidos não saia do papel enquanto, só em 2021, os gastos militares chegaram a US$ 2 trilhões e US$ 200 bilhões”, criticou.

Apesar das declarações contundentes, negociações e conversas do governo brasileiro nos primeiros dias da COP 28 com grandes produtores de petróleo, além da própria postura de Lula em apoiar o avanço da exploração de petróleo na Amazônia, expõem uma contradição latente do governo.

“Como disse o presidente Lula, estamos cansados de discursos eloquentes e vazios. Se por um lado comemoramos a redução significativa do desmatamento na Amazônia, a retomada da política ambiental brasileira e agora o lançamento da proposta para o novo fundo de financiamento de florestas tropicais, por outro lado, muito nos preocupa que o país tenha entre os seus planos expandir suas fronteiras de exploração de petróleo para regiões ambientalmente sensíveis como a Amazônia, buscando saltar da 9ª para a 4ª posição no ranking dos maiores produtores de petróleo do mundo”, comenta Camila Jardim, porta-voz do Greenpeace Brasil que está acompanhando a COP28 presencialmente. 

Jardim opina ainda que o anúncio de medidas necessárias no setor florestal não pode desviar a atenção do cerne principal da crise climática: os combustíveis fósseis. 

“Se o Brasil pretende ocupar um papel de liderança nas discussões climáticas, esse nível de inconsistências é inaceitável. Não adianta modular o discurso sobre a política climática brasileira a fim de relativizar medidas retrógradas e indefensáveis que não serão capazes de contribuir para o fim da fome e da desigualdade”, complementa a especialista.

Cartel do petróleo

Ontem (30), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sinalizou o interesse do Brasil em aceitar convite para ingressar na OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Ainda que a proposta esteja em análise, a aproximação brasileira com o bloco mostra que o país e seus líderes ainda têm o petróleo como prioridade econômica, apesar dos discursos em defesa da descarbonização e da formulação das nossas novas NDCs.

Outro ponto citado por Lula em seu discurso foi o combate à desigualdade e a conexão dessa mazela com a crise climática, já que os eventos climáticos extremos atingem a população de maneira desigual.

Para Camila Jardim, o aumento da exploração de petróleo nos levará a níveis cada vez mais inaceitáveis de desigualdade, pobreza e fome.

“Cientes de que essa crise afeta de forma desproporcional as populações mais vulnerabilizadas, aumentando a insegurança alimentar, o estresse hídrico e a pressão sobre deslocamentos forçados, sabemos que é impossível combater a fome e a pobreza sem enfrentar de forma aberta e transparente o grande vilão da crise climática”, defende a porta-voz.

Nos ajude a pressionar o presidente Lula a declarar a Amazônia uma zona livre de petróleo, assinando a petição “Petróleo Na Amazônia Não” e compartilhando com sua rede

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