“Agroecologia deveria acontecer agora em escala planetária”, defendeu Ailton Krenak no 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), maior da América Latina

12th Brazilian Agroecology Congress in Rio de Janeiro, Brazil. © Juliana Chalita / Greenpeace
Entre os dias 20 e 23 de novembro, o Rio de Janeiro sediou o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia, o maior da América Latina © Juliana Chalita / Greenpeace

“Agroecologia deveria acontecer agora em escala planetária. Aqui no país, se a ideia é justiça ambiental, tinha que começar por restaurar as áreas com a prática da agroecologia”, destacou Ailton Krenak no encerramento do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia, o CBA, que ocorreu do dia 20 ao 23 de novembro no Rio de Janeiro.

A agricultura de base ecológica – a agroecologia – é capaz de alimentar toda a população sem usar agrotóxicos, gerando renda, saúde e conservação do meio ambiente. Para isso, é urgente mais investimentos, políticas e estímulos ao setor. “Diante da crise climática, alimentar e social, o único caminho possível é o agroecológico”, enfatiza Mariana Campos, porta-voz do Greenpeace Brasil. 

Temos uma longa jornada até que a agroecologia seja prioridade no nosso país, mas o CBA mostrou que somos muitas e muitos na busca por sistemas alimentares justos e dignos, que de fato alimentam todas as pessoas com comida de verdade”, afirma Campos. 

O lema deste CBA foi  ‘agroecologia na boca do povo’ e reuniu 10 mil pessoas de 20 países, 3 mil trabalhos científicos e mais de 1.600 agricultores familiares, quilombolas e 48 povos indígenas, se consolidando como o maior evento de agroecologia da América Latina.

‘Antes do Prato’ ganha estatueta Yanomami

O documentário ‘Antes do Prato’ (2023), do Greenpeace Brasil, foi prestigiado com a estatueta Yanomami no 2º Festival Internacional de Cinema Agroecológico (FicaEco), que fez parte da programação do CBA.  

O ‘Antes do Prato’ mostra iniciativas agroecológicas em diferentes territórios, da periferia ao hospital, do sertão ao sul do país. Em comum, todas são orgânicas, ou seja, não usam agrotóxicos, promovendo saúde pública, equilíbrio ecológico e dignidade.

Você pode assistir ao ‘Antes do Prato’ no Globoplay, Youtube Filmes, Google Play, iTunes, Vivo Play e Claro TV+, ou organizar uma sessão coletiva e gratuita– saiba como em AntesDoPrato.org.br

Filme ‘Antes do Prato’ (2023), do Greenpeace, é prestigiado com estatueta Yanomami © Juliana Chalita / Greenpeace

Ruralistas na contramão

O 12º CBA celebrou a volta de políticas para a agroecologia, mas há muito pela frente. Multinacionais do agronegócio insistem em uma agricultura ultrapassada, predatória e tóxica, que causa desigualdades, doenças e destruição ambiental. 

É preciso reverter esse cenário, cobrando por uma transição ecológica na agricultura. E os principais agentes dessa transformação são os povos originários, as comunidades tradicionais e a agricultura familiar, setor que ajudou a tirar o Brasil do Mapa da Fome em 2014.

12th Brazilian Agroecology Congress in Rio de Janeiro, Brazil. © Juliana Chalita / Greenpeace
Palestrante da Cozinha das Tradições do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia © Juliana Chalita / Greenpeace

Mais agroecologia, chega de agrotóxicos

Durante o CBA, enquanto o governo federal anunciava a retomada da Política Nacional de Agroecologia (Ecoforte e CNAPO) e do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), a bancada ruralista avançou com o Pacote do Veneno (PL 1.459/22) no Congresso Nacional.

Tudo isso às vésperas da COP28, principal conferência climática do mundo, que este ano, pela primeira vez, destacou a relação entre sistemas alimentares e o aquecimento global.

O Pacote do Veneno autoriza mais agrotóxicos no país e já foi rejeitado reiteradamente por instituições de saúde e meio ambiente, como Fiocruz, Anvisa e Ibama – inclusive, no CBA, sociedade civil e científica se uniram em manifestações contrárias ao Pacote do Veneno. 

O Brasil é líder em uso de venenos. São mais de 5 mil agrotóxicos registrados e mais de 700 mil toneladas consumidas por ano, o que contradiz a postura do governo brasileiro ao querer protagonizar a ação climática e alimentar.

Apesar dos protestos, o Pacote do Veneno foi aprovado no final de novembro e, agora, o presidente Lula tem até 27/12 para vetá-lo ou aprová-lo.  

12th Brazilian Agroecology Congress in Rio de Janeiro, Brazil. © Juliana Chalita / Greenpeace
Cortejo contra o Pacote do Veneno durante o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia © Juliana Chalita / Greenpeace

Agroecologia é ciência, saúde e cultura

Nesta edição, o CBA celebrou 20 anos de existência com uma edição de quatro dias recheada de conhecimentos e trocas. Confira os relatos de participantes colhidos pelo Greenpeace Brasil.

Agroecologia é ciência 
O grande ganho da agroecologia é reconhecer outras ciências: dos povos, da terra, da água, a ciência dos invisíveis. Vai para além da academia, está na floresta”, Iran Xukuru, do povo Xukuru de Ororubá.  

“É uma mistura de saberes ancestrais com toda a tecnologia que também é desenvolvida nas universidades, nos assentamentos, nos centros de pesquisa e é passada há gerações, Renato Santos, jovem assentada da reforma agrária em Santa Catarina.

A agroecologia é ancestral, mas ao longo do tempo vai se fortalecendo e trazendo novas ideias e formas de ser, agir, pensar. E cabe todo mundo! Cabe a criança, o velho, o novo, o branco, o negro, cabe todo mundo dentro desse grande bolo”, Regilane Alves, jovem  assentada da reforma agrária no Ceará. 

Agroecologia é saúde
Agroecologia e saúde são transversais. A agroecologia produz alimentos saudáveis e relacionamentos saudáveis: valoriza as pessoas, a autoestima de agricultores e o olhar integrado da natureza através de distintas matrizes”, Ximena Moreno, pesquisadora da Fiocruz.

“A saúde depende da nossa prática e a agroecologia nos convida a ter uma prática cotidiana harmônica com todos os seres que estão ao nosso redor e nos apoiam a viver as nossas biografias”, Marcos Trajano, médico de família e comunidade.

“A agroecologia é o ponto de partida para se pensar saúde sem pensar na doença. É uma grande costura de vida, de existência de respeito. A agroecologia reconhece diversas formas de cuidar, cuidar da terra, cuidar da vida, cuidar de nós”, Theresa Siqueira, educadora popular em saúde da Abrasco. 

Agroecologia é cultura
“Mesmo sem saber esse nome, a agroecologia já era praticada pelos nossos ancestrais, pelos nossos avós, pelos nossos bisavós, na roça. É uma cultura ancestral”, Daniele Teodoro,  coordenadora da Cozinha das Tradições do CBA.

“Não se pode discutir agroecologia sem discutir a cultura no aspecto dos povos e comunidades tradicionais”, Patrícia Brito, coordenadora da Cozinha das Tradições do CBA. 

“Tudo isso vem dos nossos ancestrais, esse modo de alimentar perpassa desde da mexida e da mão na terra até o processo de germinar da flor, do fruto. A partir daí a gente se alimenta de várias formas”, Ione Maria de Oliveira, liderança quilombola de Minas Gerais.  


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