Em Berlim, as declarações da Ministra Tereza Cristina sobre a sustentabilidade da agricultura brasileira fantasiam sobre futuro e são recebidas com protestos

Junto com diversas organizações, voluntários do Greenpeace Alemanha protestaram em frente ao Fórum Global para Alimentação e Agricultura (GFFA), em Berlim. ( © Chris Grodotzki / Greenpeace )

A ministra da agricultura, pecuária e abastecimento, Tereza Cristina, foi recebida sob protestos na última quinta-feira (16), em Berlim, onde participou, a convite do governo alemão, da abertura do Fórum Global para Alimentação e Agricultura (GFFA). Os manifestantes traziam cartazes chamando atenção para a agenda antiambiental do governo brasileiro como um todo, que é seguida à risca pela pasta da agricultura. Entre as mensagens estavam manifestações a favor da proteção à floresta, dos direitos indígenas e pela redução do uso de veneno na agricultura – esse último, um ponto sensível à ministra, que tem a defesa do uso e liberação de agrotóxicos no Brasil como uma das principais marcas de sua gestão. 

Antes de embarcar para a capital alemã ela mencionou, em suas redes sociais, que essa seria uma grande oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo o que pensa sobre a agricultura do futuro. Mas o discurso não trouxe nenhuma novidade, apenas reflexões vazias sobre a importância dos pequenos agricultores, da mulher agricultora e da bioeconomia. Na prática, entretanto, a política levada à cabo pelo ministério é do século passado:  incentivo aos grandes latifúndios e a monocultura, uso intensivo de agrotóxicos e esgotamento ambiental. Uma declaração que deixa clara essa falta de liderança e responsabilidade do governo foi de que a “agricultura não pode ser a vilã do clima”, enquanto todas as evidências apontam o atual modelo de produção de commodities como um dos principais emissores de gases do efeito estufa.

O que ficou claro é que, ao invés de trazer propostas de novos rumos, a ministra decidiu se defender e reforçar posições indefensáveis do atual governo em relação ao meio ambiente. Tereza parece seguir alheia ao que acontece no próprio quintal. Ao invés de ser protagonista de mudança, a ministra se exime de responsabilidade. No final do ano passado, ela havia declarado que a agricultura nada tinha a ver com a Amazônia

E, nisso, ela insistiu novamente em Berlim – argumento que, não a toa, arrancou gritos de “mentira” da plateia. A ministra, que comanda a pasta da agropecuária brasileira, segue mantendo silêncio sobre o fato que grande parte do bioma amazônico segue sendo desmatado e que existe uma forte relação disso com a atividade pecuária no bioma

Hoje, mais importante do que falar vagamente do futuro, precisamos de medidas efetivas para enfrentar os desafios ambientais que já estamos vivendo, começando por assumir que, sim, o modelo agrícola atual e a agricultura e pecuária brasileira têm contribuído direta e significativamente para o aquecimento global. Além disto, a cada dia que passa, mais veneno é liberado, mais direitos sociais são desrespeitados e mais violência no campo é registrada.  Seguir neste rumo de negar tais mudanças e, portanto, de não agir a respeito, irá nos colocar em um rumo cada vez mais perigoso e nos jogar para um futuro mais sombrio. 

O que foi evidenciado nas declarações da ministra é que os impactos ambientais da agropecuária continuam a ser minimizados, ignorados ou até defendidos. E se essa for de fato a posição do poder público, a produção de alimentos continuará a ser parte do problema e pode se concretizar não apenas como a vilã do nosso, mas também de seu próprio futuro.

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