Campanha do Greenpeace apoia famílias na luta pela soberania alimentar e a manutenção da produção agroecológica no semiárido

Campanha Agroecologia Contra a fome beneficiou mais de 300 famílias e 400 produtores do semiárido, em Mossoró, RN/ Foto: Atalo Silva, Cooperativa Xique Xique
Campanha Agroecologia Contra a fome beneficiou mais de 300 famílias e 400 produtores do semiárido, em Mossoró, RN/ Foto: Atalo Silva, Cooperativa Xique Xique

Desemprego, aumento da pobreza e interrupção de programas sociais foram as dificuldades impulsionadas pela pandemia que levaram a população de Mossoró, no semiárido, ao triste cenário da fome.  

A cidade, a 280 quilômetros da capital do Rio Grande do Norte, com 300 mil habitantes, tem sua economia baseada no petróleo e na fruticultura irrigada para exportação, mas faltam investimentos para os pequenos. A agricultura familiar regional resiste com pouco acesso à água e às políticas públicas. Nesse cenário a agroecologia tornou-se um caminho para as organizações locais e cooperativas lutarem contra a fome.

Porém, desde 2020, a atividade também foi atingida pela pandemia, que paralisou o principal canal de venda dos agricultores familiares de Mossoró, a Feira Agroecológica, fechada por conta das medidas de restrição para conter o avanço da doença. 

Para prestar o seu apoio, o Greenpeace Brasil uniu-se aos movimentos sociais locais para levar à região a Campanha “Agroecologia contra a fome”, com o objetivo de fortalecer agricultores familiares de base ecológica e, ao mesmo tempo, doar alimentos saudáveis para pessoas em situação de vulnerabilidade do semiárido. 

Foram entregues mais de 5 toneladas de comida a mais de 300 famílias. A parceria também beneficiou diretamente 400 pequenos produtores agroecológicos com a aquisição dos alimentos. 

“Os projetos de cisternas foram paralisados desde 2018, acabaram todos os programas sociais. O governo do Estado até contribui, mas o dinheiro acaba tendo que ir para os hospitais, por causa da pandemia. Muitos dos produtores que vendiam diretamente na feira não tinham CNPJ e ficaram sem caminhos para escoar a produção.As pessoas estão passando muita dificuldade aqui”, explica  Francisca Eliane de Linda, a Neneide, conselheira e presidente da Cooperativa de Comercialização Solidária Xique Xique. O nome é uma homenagem à persistente planta da caatinga que resiste à seca e alimenta muitos no semiárido.

“Essa cesta chegou no momento certo”

As doações da campanha ocorreram entre 19 e 20 de outubro, quando foram entregues 14 produtos diferentes às famílias de Mossoró, Janduís e Upanemas. A cooperativa Bodega Xique Xique foi responsável pela compra e distribuição das cestas com produtos da agroecologia, como:  arroz-vermelho, feijão de corda, ricota, farinha, banana, jerimum, hortaliças, mamão, polpa de frutas, ovos entre outros. 

“Compramos mais de 4.500 ovos caipira na região. As famílias chefiadas por mulheres, desempregados e os que ficaram sem renda na pandemia foram as principais beneficiadas”, diz Neneide. 

Foi o caso de Ligiane Aurita da Silva Pessoa que está há meses sem emprego fixo. Ela conta que hoje trabalha como diarista, mas nunca sabe ao certo quando haverá trabalho. “Tenho 40 anos e nunca tive carteira assinada na vida. Mas a situação piorou no último ano, e o desemprego na região é muito grande, muitos vivem de bico. Essa cesta chegou no momento certo, as pessoas estavam precisando muito”, diz.

Para ela, a cesta agroecológica também possibilitou o acesso a um alimento  raro em sua casa, frutas. “Essa cesta veio com banana, mamão, batata, farinha, arroz da terra. Ela é boa porque veio com produtos mais naturais. Tem muita gente que precisa de uma fruta e não tem, fruta é caro e ter nessa hora é bom demais”, disse. 

“Nunca fica pra um só, essa economia ajuda os outros e circula”

A ação também foi um importante apoio aos produtores para escoar estoques parados por causa da crise. Esse foi o caso da família de Maria Antônia da Silva Souza, a Toinha. Ela, a mãe e a irmã trabalham com hortaliças e frutas e ficaram meses sem conseguir vender nada. 

“A produção na época da pandemia foi péssima, foi o pior momento da nossa vida. As pessoas pararam de comprar, tivemos dificuldade até para nos deslocar do sítio para Mossoró pra vender, foi tudo muito difícil. Chegamos a doar pra não perder a produção”, disse Toinha. 

A compra dos alimentos para as cestas acabou tornando-se um apoio para a comunidade como um todo. “Deu para desafogar um pouco da produção e algumas frutas que tínhamos compramos de outros produtores e estávamos devendo. Agora nós conseguimos pagar eles também. Foi um dinheiro que circulou na comunidade. Chegou em boa hora. Nunca fica pra um só, essa economia ajuda os outros e circula”, explicou a produtora agroecológica.

Algumas famílias que participaram da campanha fornecendo ovos vão usar o dinheiro para investir em benfeitorias. Francisca Francedir Amorim França fará uma reforma em sua granja de galinhas caipiras.

 “A pandemia fez nossa venda ter uma redução sem medidas. A iniciativa da cesta foi tão boa  que muita coisa que tínhamos que investir e não tínhamos condição, agora podemos.  Vou fazer outro comedouro e iluminação.  Já fomos até a cidade comprar material para fazer essa melhoria para as aves. Até compra de reserva de milho conseguimos”, conta Francisca.

A reforma na granja é fundamental para que ela e o marido consigam se enquadrar nas exigências legais e tornarem-se fornecedores para programas do governo de aquisição de alimentos para merenda escolar.   “Essas melhorias vão nos ajudar a conseguir a certificação. Daí podemos entrar nas comprar oficiais”, afirma Francisca. 

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