Lema do Instituto Rebbú, de Manaus, reflete pedido das juventudes do Adaptajuv durante visita ao Congresso Nacional e ministérios

Juventudes periféricas do programa Adaptajuv fazem imersão em Brasília, Brasil. © Adriano Machado / Greenpeace

Adaptar as cidades é urgente e necessário para garantir a vida de quem é mais impactado pelas mudanças climáticas, e esse caminho só será bem sucedido se for construído com a participação dessas pessoas, desses territórios.

É a partir desta premissa que o programa de formação “Adaptajuv: advocacy, adaptação e juventudes pelo clima” chega à segunda fase em uma imersão com jovens periféricos nos bastidores e espaços oficiais de tomada de decisão da política brasileira.

Idealizado pelo Greenpeace Brasil, em parceria com o Instituto Clima de Eleição, o programa levou para Brasília onze jovens ativistas das Regiões Metropolitanas de Manaus, Recife e São Paulo, que moram e/ou atuam em territórios como favelas, ocupações e bairros periféricos – localidades negligenciadas pelo poder público e gravemente impactadas pelas mudanças climáticas.

O objetivo foi contribuir para que pudessem aprofundar seus conhecimentos sobre incidência política e exercitar habilidades de articulação com lideranças nos espaços de tomada de decisão.

Participar do Adaptajuv tem sido muito importante para que a gente torne mais eficiente a nossa luta. É uma oportunidade de compreender melhor como as decisões são tomadas, especialmente em relação à pauta da crise do clima, e pensar em como a gente leva esse conhecimento à nossa comunidade, a fim de que as pessoas se organizem e cobrem políticas públicas que evitem que os eventos extremos afetem tanto a vida delas”, afirma Mayara Torres, uma das jovens integrantes do Adaptajuv, advogada e fundadora do Projeto Direito Nosso – uma iniciativa que atua com educação política na favela da Borracha, no Distrito da Pedreira, em São Paulo.

Durante a imersão, que aconteceu entre os dias 21 e 23 de novembro, o grupo participou de agendas no Congresso Nacional e em diferentes ministérios, como o Ministério dos Povos Indígenas, da Igualdade Racial, e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, onde foram recebidos pela ministra Marina Silva.

Além disso, o grupo esteve na Secretaria Nacional de Periferias, do Ministério das Cidades, onde dialogou com responsáveis pelo departamento de Planos de Prevenção e Mitigação de Risco. No encontro, expuseram os desafios vividos em seus territórios frente aos eventos extremos e à vulnerabilidade agravada pela falta de políticas públicas.

Outro momento marcante da imersão foi o protagonismo dos participantes do Adaptajuv em uma audiência pública na Comissão de Legislação Participativa, na Câmara dos Deputados, com o tema: Adaptação Climática nos Municípios e o Protagonismo de Lideranças Jovens, com base no Projeto de Lei 4129/2021, que estabelece diretrizes para a elaboração de planos de adaptação à mudança do clima.

Na audiência pública, dirigida pela deputada Talíria Petrone, expuseram desafios enfrentados em seus territórios, como a falta de moradia digna e segura, saneamento básico, insegurança alimentar e demais ausências que denunciam o abandono do poder público.

Além disso, falaram sobre adaptação climática a partir de suas perspectivas e contaram do trabalho que realizam para garantir resiliência, ecoando as potencialidades e as tecnologias sociais geradas no território, por quem nele habita.

Para assistir a audiência completa, clique aqui.

“Esta é uma iniciativa que vem de encontro ao que tem de estar no cerne da elaboração e implementação das políticas públicas para adaptação climática, a escuta e a participação ativa das populações mais vulnerabilizadas. São as pessoas negras, principalmente mulheres, crianças, comunidades tradicionais e originárias que mais sofrem com os impactos, que tornam-se ainda mais graves diante da falta de infraestrutura adequada e do acesso limitado a recursos. É inegociável que as vozes dos territórios sejam ouvidas e que a escuta vire prática, torne-se política pública, adaptando as cidades e evitando novas tragédias”, destaca Pamela Gopi, porta-voz da frente de Justiça Climática do Greenpeace Brasil.

Conectar território e política pública

As consequências da crise climática desencadeiam danos humanos que continuarão passando longe das políticas públicas se as pessoas mais impactadas não participarem da elaboração e implementação das soluções. Daí o lema do Instituto Rebbú, de Manaus, “a solução vem da comunidade”, ter ficado marcado como pensamento presente nas falas e na pauta dessa imersão. 

A problemática da pobreza menstrual vivida pelas mulheres e pessoas que menstruam, em comunidades isoladas na Amazônia, em época de seca, é exemplo prático da importância da aproximação com o território para identificar os problemas e construir caminhos para garantir resiliência.

É o que relata Emile Gomes, uma das fundadoras do Instituto Rebbú, organização que atua para combater a pobreza e reduzir as desigualdades sociais com recorte de gênero, no Norte e Nordeste.

“Quando a gente fala sobre a seca em Manaus, as pessoas pensam apenas na escassez da água. Só que quando a gente aprofunda esse olhar, especialmente nos territórios mais isolados, entende que a escassez da água impacta diretamente as mulheres e as pessoas que menstruam, desencadeando pobreza menstrual. Essas pessoas deixam de ter acesso à água para fazer sua higiene, sendo forçadas a faltar na aula ou no trabalho, e tornando-as também mais suscetíveis a doenças”, explica Emile.

Da esquerda para a direita, Emile Gomes e Raline Pontes, do Instituto Rebbú, de Manaus, em visita ao Congresso Nacional, em Brasília, durante atividades do programa de formação “Adaptajuv: advocacy, adaptação e juventudes pelo clima”. © Adriano Machado / Greenpeace

Formação que potencializa e fortalece

Apesar desses jovens já atuarem em seus territórios pautando propostas de melhorias e cobrando o poder público, a formação em incidência política acrescentou ferramentas para um outro passo importante nessa segunda fase do programa: desenvolver campanhas de advocacy para cobrar planos locais de adaptação nas instâncias de poder municipal. 

A partir de março de 2024, os coletivos, movimentos e organizações colocarão suas campanhas de advocacy climático na rua. Será um ano decisivo para as cidades, que passarão por eleições municipais, e um momento oportuno para cobrar e pressionar os candidatos do compromisso com a agenda climática e com as populações mais vulnerabilizadas.

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