Partículas de óleo continuam a chegar nas praias do sul da Bahia. As moradoras organizam a coleta e ficam de prontidão para uma possível chegada de manchas maiores

Profissionais do ICMbio realizam palestra com a comunidade sobre os riscos do óleo para a saúde. Foto: Nilmar Lage / Greenpeace

Desde a manhã do dia 1º de novembro, o distrito de Cumuruxatiba, a 33 quilômetros de Prado, no sul da Bahia, vive em estado de alerta. Os fragmentos do óleo que vem atingindo as praias do Nordeste apareceram também na região. Mas diferentemente das grandes manchas, o que chega ao litoral sul baiano varia de gotículas viscosas a discos de até 10 centímetros de diâmetro. Ainda assim, o aparecimento nas praias deixa a população preocupada, em especial, as mulheres.

Nascida em Cumuru (como o distrito é localmente chamado), a cantora Daniele Reis, de 24 anos, assumiu a missão de divulgar a chegada do óleo e de organizar a comunicação local pelo WhatsApp. “Quanto mais a gente divulgar a verdade, mostrar a nossa união, mais vamos ajudar o turismo. Estamos fazendo isso não só para proteger o turista, mas para proteger todo o meio ambiente, os nossos pescadores, os peixes, o povo. Quem conhece Cumuru ou quem tem noção do que é viver em comunidade vai entender a nossa força. Eu, como nativa, tenho de cuidar do mar, dos rios, da minha comunidade, do meu povo”, diz.

Outra liderança no combate ao óleo é a arquiteta Iris Brasil, de 41 anos. Ela tornou-se o ponto focal para formar equipes de limpeza e organizar as doações de kits de equipamentos de proteção individual (EPI), imprescindíveis para a manipulação do óleo.

A arquiteta Iris Brasil organiza as doações e distribuições de EPIs para voluntários que atuam na limpeza das praias. Foto: Nilmar Lage / Greenpeace

O dia a dia das frentes de limpeza

O time age rapidamente: caso alguém perceba a presença de petróleo, os voluntários se mobilizam via WhatsApp para realizar a limpeza, que chega a ser minuciosa por causa do tamanho das partículas. Até o momento, não chegaram manchas maiores, contudo, o trabalho diário na coleta de fragmentos continua.

No distrito de cerca de cinco mil habitantes e economia baseada em pesca e turismo, as diferenças pessoais são superadas em prol da defesa da natureza contra a contaminação.

A prefeitura destacou funcionários da Limpeza Urbana para limpar a areia e liberou a vistoria de motocicletas nas praias – cerca de 8 quilômetros de litoral foram cercados por fazendeiros e são inacessíveis por veículos maiores. Já o comércio local contribuiu doando alimentos, equipamentos de proteção individual e fornecendo internet.

Alguns pescadores trabalham na vistoria do mar e enviam informes diários ao grupo. Um deles é Albino Neves, 68, nativo de Cumuru e pescador desde os 8 anos. Ele acorda às 4h e faz uma caminhada para verificar a presença de petróleo nas praias. Enquanto isso, seu filho sai com a lancha de alumínio da família para monitorar o mar.

Iinquieto com a possibilidade de chegada das manchas de óleo, seu Albino caminha todas as manhãs para verificar as praias. Foto: Nilmar Lage / Greenpeace

“Estamos muito preocupados com o banco de corais de Abrolhos, que se estende nessa faixa entre Canavieiras (BA) até o Espírito Santo, passando por Cumuru. São espécies de corais exclusivas aqui do sul da Bahia, e além disso, são berçários da vida marinha. Outra preocupação é com os manguezais, onde ocorre a reprodução de espécies importantes para a vida marinha. Precisamos preservar esses ecossistemas”, diz o pescador.

Petróleo: um vilão que podemos combater juntos

O derramamento do petróleo não é só um crime contra a natureza, mas também contra a economia e o bem-estar das pessoas. Crime que poderia ser evitado com o uso de fontes de energia renováveis. O Nordeste, com todo o seu potencial para geração de energia eólica e solar, não merecia estar nessa situação. É por isso que o Greenpeace luta pelo fim da era do petróleo, e você também pode ajudar. Assine a nossa petição para exigir que o governo brasileiro mude sua atitude e passe a defender o que realmente importa: a biodiversidade, uma das maiores riquezas nacionais.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!