Há 20 anos, Dorothy Stang, defensora incansável da floresta, era brutalmente assassinada no Pará. Seu legado, no entanto, segue vivo e inspirando milhares de ativistas na luta pela terra e pela Amazônia.

A coragem e determinação de irmã Dorothy ressoam em nosso trabalho. Hoje e sempre.

Confira o emocionante relato de Nilo D ́Avila, que faz parte da equipe do Greenpeace Brasil e atuava como Diretor de Campanhas da organização na época do assassinato.

Funeral da Irmã Dorothy Stang, missionária estadunidense de 74 anos assassinada por seu trabalho de defesa a Amazônia e direito dos trabalhadores rurais. (© Alberto Cesar Araújo / Greenpeace)

“Era um sábado, 12 de fevereiro de 2005. Por volta das 10 horas da manhã, cheguei ao escritório do Greenpeace em Manaus para trabalhar. O prazo para entregar o primeiro esboço da pesquisa sobre soja estava se aproximando, e, naqueles dias, parecia que todo dia era segunda-feira. Estranhamente os telefones não paravam de tocar (ainda existia os fixos).

Ao atender uma das chamadas, fui surpreendido por uma notícia devastadora: ‘Mataram Irmã Dorothy Stang’.

Naquele momento, grande parte da equipe do Greenpeace na Amazônia estava com a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participando da assembleia de criação da associação comunitária da reserva extrativista Verde Para Sempre, em Porto de Moz. Lembro-me de ter ligado para duas colegas e pedido, sem muitas explicações, mas com a voz embargada pela emoção: ‘Por favor!!! Preciso de vocês no escritório agora!’.

Assim começou um longo e exaustivo trabalho de filtragem de informações e apoio logístico. Vinte e quatro horas depois, a equipe que estava em Porto de Moz seguiu para Anapu, enquanto eu fui para Belém.

No salão onde ocorreu uma homenagem a Dorothy, antes que seu corpo retornasse a Anapu, encontrei diversos ativistas das causas sociais e ambientais. Estavam desorientados, abatidos, tentando, assim como eu, processar o que havia acontecido.

Além de Dorothy, outras quatro lideranças dos trabalhadores rurais do Pará foram assassinadas naquele mesmo dia. Seria parte de um plano maior? Nunca saberemos ao certo. Eu não fui até Anapu, mas o Greenpeace estava lá, representado por tantos outros colegas.

Os dias seguintes foram de agitação: o Exército chegou, novas reservas foram criadas, e prisões e julgamentos começaram a ocorrer. Era um enredo familiar de reações tardias do Estado após o assassinato de uma liderança que ganhou destaque nacional. Foi assim com Chico Mendes, com Dema, Fusquinha, Brasília e tantos outros.

Tatuado em minhas memórias estão os telefonemas de Dorothy para o escritório. Seu sotaque forte do outro lado da linha, as frases sempre repetidas duas vezes para garantir que não houvesse dúvidas. Suas conversas eram rápidas, diretas, e sempre terminavam com um aviso: ‘Enviei mais uma denúncia para o Ibama… Você pode ajudar quem depende da floresta?’.

Sempre tentando, sempre tentando, Irmã.

Salve, Dorothy!

Sua luta e seu legado permanecem vivos, assim como a memória de sua coragem e dedicação à Amazônia e às pessoas que dependem dela.”

Nilo D’Ávila

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