Pesquisa do Greenpeace/Ipec revela que a população brasileira reconhece que pessoas pobres são as mais afetadas por eventos climáticos extremos

Os moradores da Vila Sahy, local mais impactado após as chuvas em São Sebastião, viram suas casas serem soterradas e vidas serem ceifadas pela falta de políticas públicas de prevenção e adaptação para garantir cidades seguras. © Diego Baravelli / Greenpeace

Nos últimos meses, temos testemunhado constantes desastres após eventos climáticos extremos. Uma realidade que tem se agravado pela falta de ações do poder público para evitar mortes e incontáveis danos humanos, principalmente às populações mais vulnerabilizadas e ameaçadas. As fortes precipitações no Nordeste, os deslizamentos no Sudeste, os ciclones extratropicais e cheias recordes no Sul agora se somam a um outro lado dessa moeda, a estiagem na região Norte. 

Os extremos de chuva e a seca que atinge a Amazônia, são ambos agravados pela crise climática e pelo fenômeno El Niño, que ganhou força em um planeta já mais quente. Os efeitos dessas crises são gigantescos, e elas têm mais um fator comum, impactam de forma desproporcional as populações ribeirinhas, pescadores e pescadoras, comunidades indígenas, quilombolas, população preta, periférica e trabalhadora – as primeiras a sofrerem as consequências e as que possuem menos ferramentas para reagir. 

Neste 13 de outubro, Dia Internacional para a Redução do Risco de Desastres, uma pesquisa* realizada pelo Greenpeace Brasil, com dados coletados pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), revela que 63% dos brasileiros se sentem inseguros ou muito inseguros em relação a eventos climáticos extremos em suas cidades. O detalhamento por classe social mostra que há um diferença relevante nessa percepção de segurança, pois 56% das pessoas das classes A e B afirmam se sentir inseguras ou muito inseguras, enquanto entre as pessoas das classes D e E, o percentual chega a 70%.

As informações da pesquisa também apontam que 62% dos brasileiros reconhecem que pessoas pobres são as mais afetadas por eventos climáticos extremos, e 77% dos moradores das capitais brasileiras confiam pouco ou não confiam nada na capacidade de suas prefeituras para prevenir ou reduzir impactos de desastres causados pelas mudanças climáticas, como enchentes ou deslizamentos de terra. Ainda nesse quesito de confiança, o recorte por raça revela que 72% das pessoas pretas cofiam pouco ou não confiam nas gestões municipais enquanto entre os brancos o percentual é de 63%. 

Acesse aqui o conteúdo completo da pesquisa.

Ativistas do Greenpeace realizam manifestação no leito seco de um rio atingido pela forte estiagem, na Bacia do Tarumã, em Manaus, Amazonas. Em 2023, estados da Amazônia enfrentam uma forte estiagem, que secou leitos de rios e lagos em diversos municípios, deixando populações isoladas e animais mortos. O fenômeno de vazante dos rios, que acontece naturalmente, foi potencializado pela combinação de El Niño e calor extremo, devido às mudanças climáticas, causando uma emergência ambiental. © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Gasta-se mais com reparação do que com prevenção

Para 2023, o orçamento federal previsto para ações de prevenção e gestão de riscos e desastres é de R$1,17 bilhão, segundo levantamento feito pela Associação Contas Abertas, especialista em orçamentos públicos. Este recurso tem como fim obras como contenção de encostas, drenagem, estudos de áreas de risco, entre outros. É o menor orçamento em 14 anos. 

E ele seria ainda menor, se o Congresso não tivesse aprovado a PEC da Transição, uma proposta que aumentou a previsão de orçamento para 2023 para incluir uma série de promessas de campanha de Lula. Segundo o Ministério do Planejamento e Orçamento, o projeto de orçamento enviado pelo governo Bolsonaro em agosto de 2022 para o ano de 2023 previa apenas R$ 671,54 milhões para ações de prevenção e gestão de desastres.

Em paralelo, um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios revela que 5,8 milhões de brasileiros foram afetados pelo impacto das chuvas intensas e das secas, também em 2023. A conta paga pela população é muito cara, acumulando perda de vidas, desalojamentos e perdas econômicas significativas. E a conta que sai dos cofres públicos também é alta. Esse mesmo levantamento estima que apenas neste ano o Brasil já sofreu prejuízos de R$ 50,5 bilhões devido a tempestades e longos períodos de estiagem.

O que é preciso ser feito?

“O Brasil precisa priorizar e implementar políticas de adaptação climática e efetivar a gestão de risco aos desastres. É necessário que medidas e estratégias sejam adotadas com participação social, pois é nas periferias, favelas, quilombos, aldeias e terreiros que está a tecnologia social necessária para o enfrentamento à crise climática”, afirma Rodrigo Jesus, porta-voz da frente de Justiça Climática do Greenpeace Brasil. 

“O poder público precisa considerar as políticas de prevenção à catástrofe como medida de proteção da vida da população brasileira, alocando recursos necessários em todas as esferas e setores institucionais”, complementa. 

A crise climática já é uma realidade, e a hora de agir é agora! Junte-se a nós nessa mobilização e participe do abaixo-assinado “Basta de tragédias quando as chuvas chegam!”.  

*A pesquisa foi realizada entre os dias 01 e 05 de setembro, de forma presencial, em todos os estados do país – 2 mil pessoas com 16 anos ou mais foram ouvidas. O conteúdo completo da pesquisa está disponível aqui e faz parte de uma pesquisa global do Greenpeace Internacional realizada em 7 cidades ao redor do mundo: São Paulo, Istambul (Turquia), Bangalore (Índia), Delhi (Índia), Nairobi (Quênia), Jacarta (Indonésia) e Bogotá (Colômbia).

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